
Enquanto Honduras sediava a Cúpula da Celac, o Brasil seguia, como sempre, refém dos próprios bastidores. Na tarde da quarta-feira (9), Luiz Inácio Lula da Silva anunciou, entre sorrisos e promessas, que deve discutir com o União Brasil a indicação de um novo nome para o Ministério das Comunicações, após a saída de Juscelino Filho, denunciado pela Procuradoria-Geral da República (PGR).
É curioso, para dizer o mínimo, como os escândalos de corrupção parecem não ter peso algum no vocabulário presidencial — apenas “detalhes” que devem ser resolvidos com “tranquilidade”, porque, segundo Lula, “o governo está vivendo um bom momento”. Claro. Quando o critério de sucesso é a quantidade de cargos negociados com partidos sem identidade, qualquer estabilidade cheira a progresso.
Segundo a matéria da Veja, o presidente não só aceita como naturaliza que o partido do ex-ministro indique o sucessor. Ele afirma que “o União Brasil tem o direito de me indicar um sucessor”, deixando claro, mais uma vez, que o Brasil está sendo administrado como uma empresa pública decadente: troca-se a diretoria, mas mantém-se a cultura da ineficiência — e da impunidade.
Mas, vamos com calma. Aqui não se trata apenas de uma mudança ministerial. Trata-se de uma dança coreografada, uma ópera de conveniência encenada por Lula e pelas figuras obscuras que orbitam o Congresso Nacional. No centro do palco, o nome do possível substituto: Pedro Lucas Fernandes, atual líder do União Brasil na Câmara dos Deputados. Um nome que, no mínimo, exige investigação prévia antes de qualquer saudação presidencial.
A narrativa do poder: tudo pela governabilidade?
Lula tenta, com um certo ar professoral, convencer o povo brasileiro de que “governabilidade” se conquista com acordos partidários e distribuição de cargos. A velha política do “toma lá, dá cá” se traveste de “aliança democrática” ou “representação republicana”. Mas por trás da cortina retórica, o que temos é a substituição de um ministro envolvido em desvios de verbas públicas por um indicado do mesmo grupo político, com os mesmos interesses — e o mesmo silêncio sobre a moralidade pública.
Para Lula, não importa que a PGR tenha denunciado Juscelino Filho por esquemas envolvendo emendas parlamentares. O importante é que o processo “não atrapalhe o dia a dia do governo”. Eis o Brasil em sua essência lulopetista: a corrupção não é o problema — o problema é ser pego.
O presidente também deixou claro que “qualquer mudança no governo é uma decisão unilateral do presidente da República”, mas só até a página dois. Porque, na prática, o que se vê é uma presidência acuada, negociando ministérios com partidos como o União Brasil, um aglomerado de conveniências que não possui projeto de país, apenas projeto de poder.
Celac, Honduras e o enredo latino-americano
É simbólico que Lula tenha feito essas declarações direto de Tegucigalpa, capital de Honduras, durante a Cúpula da Celac — esse bloco latino-americano que mais parece um consórcio de presidentes populistas em busca de legitimidade mútua. É nesses eventos que Lula se sente em casa: ao lado de figuras como Nicolás Maduro, Daniel Ortega e outros representantes da velha esquerda latino-americana que ainda acreditam que retórica revolucionária pode esconder os desastres econômicos e sociais provocados por seus próprios regimes.
Enquanto o presidente fala de “crescimento econômico” no exterior, no Brasil real a inflação corrói o salário dos mais pobres, o desemprego assombra milhares de lares, e a criminalidade avança nas ruas. Mas tudo bem, para Lula, “estamos vivendo um bom momento”. Bom para quem, presidente? Para o partido? Para os aliados do Centrão? Para os indicados ao STF?
O cidadão brasileiro, esse sim, continua sem acesso a saúde de qualidade, educação básica digna e segurança pública. Mas o presidente prefere falar sobre “investimentos”, como se a entrada de capital estrangeiro fosse sinônimo de prosperidade nacional. Esquece-se que o investidor só vem quando há confiança jurídica, estabilidade fiscal e previsibilidade — e nada disso existe em um governo que troca ministro como se troca figurino de teatro.
União Brasil: partido de quê, mesmo?
É importante destacar: o União Brasil, partido resultante da fusão entre DEM e PSL, já nasce sem identidade. Um Frankenstein político, criado para sobreviver à cláusula de barreira e aumentar o tempo de TV. Tornou-se, rapidamente, um dos maiores partidos do Congresso — não por suas ideias, mas por sua habilidade em negociar cargos.
Hoje, o União Brasil é o típico partido que pode estar na base de qualquer governo. No governo Bolsonaro, negociava seus votos com nomes como Baleia Rossi e Arthur Lira. No governo Lula, faz o mesmo jogo — só trocou de parceiro.
E é exatamente esse o perfil que interessa ao Planalto: partidos sem ideologia, apenas com fome de cargos. E a resposta de Lula à denúncia contra Juscelino Filho demonstra isso com clareza: “é uma política saudável que ele se afaste para provar sua inocência”. Políticas saudáveis, presidente, são aquelas que não toleram o uso indevido de emendas parlamentares. Saudável seria não nomeá-lo em primeiro lugar.
O novo nome: mais do mesmo?
Pedro Lucas Fernandes, o nome sugerido por Lula e mencionado na matéria da Veja, é pouco conhecido do público geral — e é exatamente por isso que foi cogitado. Perfis discretos, apagados e leais ao presidente da vez são os favoritos do Planalto. São facilmente manobráveis, obedecem sem questionar e, de quebra, ajudam na articulação de votações no Congresso.
Se Pedro Lucas Fernandes assumir a pasta, será apenas mais um nome no álbum de figurinhas da política brasileira: sem projeto, sem visão de Estado, mas com padrinho forte. Alguém duvida de que sua nomeação se dará após longas reuniões com Davi Alcolumbre, cacique do partido e ex-presidente do Senado, famoso por seu poder de barganha e influência nos bastidores?
Lula, ao dizer que vai convocar Alcolumbre e “alguns dirigentes” do União Brasil, mostra que não há critério técnico algum. A única técnica envolvida é a de sobrevivência política.
O silêncio da imprensa amiga
É curioso notar como a cobertura sobre o caso tem sido morna, para não dizer moribunda. A própria Veja, embora tenha feito o registro factual, evita aprofundar as implicações políticas e morais do episódio. A grande mídia nacional, em sua maioria, parece ter esquecido como fazer jornalismo investigativo quando o escândalo não envolve nomes da direita.
Quando ministros de Jair Bolsonaro eram investigados ou denunciados, a cobertura era diária, com manchetes dramáticas e chamadas histéricas. Agora, quando um ministro de Lula é denunciado pela PGR, tudo é tratado com “naturalidade institucional”. A indignação da imprensa tem cor, cheiro e lado ideológico.
Essa seletividade é o que mina a confiança do povo na grande mídia. E por isso portais como o Conservadores Online crescem: porque ousam apontar os dois pesos e duas medidas aplicados pela elite da informação no Brasil.
O que está em jogo: a alma da República
Pode parecer apenas uma troca ministerial. Mas é muito mais do que isso. É a reafirmação de um modelo de poder que despreza a ética, que transforma a máquina pública em moeda de troca, e que não se envergonha de anunciar isso em conferência internacional, como se fosse um feito diplomático.
A alma da República está em jogo. E ela está sendo vendida em parcelas mensais a partidos fisiológicos, enquanto o cidadão brasileiro assiste, atônito, a repetição do velho roteiro. Lula governa para se manter no poder, não para transformar o Brasil.
E os que ainda se surpreendem com essa postura precisam lembrar: o Lula de hoje é o mesmo de 2005, quando o escândalo do mensalão explodiu. É o mesmo de 2009, quando o Petrolão se consolidava. É o mesmo que chama Daniel Ortega de “companheiro democrático” e Maduro de “vítima do imperialismo”.
Esse é o presidente que volta ao Brasil nesta quinta-feira. E, com ele, volta também a certeza de que o país continua sendo governado com base em interesses partidários, não no interesse nacional.
E quando a política vira um balcão de negócios, o povo vira apenas cliente enganado.
Com informações Veja