
Você já sentiu que está vivendo num teatro mal encenado, onde os atores esqueceram que são coadjuvantes e resolveram se apossar do roteiro? Pois é exatamente essa sensação que me bate toda vez que olho para Brasília e vejo os ministros do STF fazendo mais barulho que os próprios deputados eleitos. E não é força de expressão, não. É constatação — com pitadas de indignação e, por que não, ironia.
Outro dia, enquanto eu navegava pelas redes, dei de cara com um vídeo do Deltan Dallagnol, aquele mesmo, o ex-procurador que ousou enfrentar o sistema e agora é caçado por ele como se fosse um criminoso por ter… feito seu trabalho. O título do vídeo já era um tapa de luva: “Ministros do STF vão largar a toga e se candidatar nas eleições de 2026?”. A pergunta é irônica, mas como toda boa ironia, carrega uma pontada de verdade que incomoda — e muito.
Deltan, com a clareza que sempre teve, levanta uma possibilidade que, confesso, já me ocorreu mais de uma vez. Afinal, se os ministros do Supremo Tribunal Federal estão tão interessados no que acontece no Congresso, se metendo em cada votação, em cada projeto, em cada respiro dos deputados, por que não oficializar a coisa toda? Larguem logo a toga e venham pedir voto. Seria até mais honesto do que continuar bancando os guardiões da Constituição enquanto a rasgam em praça pública com decisões monocráticas e ativismo político sem vergonha na cara.
E é aí que a gente entra no ponto mais sensível: a inversão completa de papéis. O Poder Judiciário, que deveria ser o mais técnico, o mais isento, virou palco de vaidades, de egos inflados, de ambições políticas escancaradas. E não pense você que isso é teoria da conspiração ou exagero retórico. É realidade documentada em decisões, em pressões de bastidores, em chantagens veladas — ou nem tão veladas assim.
MINISTROS DO STF VÃO LARGAR A TOGA E SE CANDIDATAR NAS ELEIÇÕES DE 2026?
— Deltan Dallagnol (@deltanmd) April 14, 2025
📌 Neste vídeo, você vai entender:
1️⃣ A teoria (irônica) de que os ministros do STF vão largar a toga e se candidatar ao Congresso em 2026, de tanto que interferem no Legislativo;
2️⃣ Como os ministros agora… pic.twitter.com/HlGHOMXTQj
Deltan explica, com a habitual firmeza, que os ministros estão ameaçando o próprio governo Lula — sim, aquele que vive num romance tórrido com o STF — para que retirem a urgência do projeto de anistia aos parlamentares bolsonaristas. E por quê? Porque o STF não quer ser “enquadrado” por leis que limitem seus superpoderes. O Congresso, quando tenta legislar sobre os abusos do Judiciário, logo é tachado de golpista, antidemocrático, reacionário. Mas quando o STF interfere diretamente no Legislativo, seja barrando projetos, seja “convidando” parlamentares a mudar o voto, aí tudo bem. A democracia, nesse caso, agradece.
Chega a ser patético. Ou melhor: seria, se não fosse tão perigoso.
Estamos vivendo uma era em que o Supremo virou partido político, com direito a militância digital, assessoria de imprensa ativa, articulação com jornalistas e, agora, possivelmente, projetos eleitorais. O próximo passo é o quê? Ministros do STF fazendo campanha de rua, subindo em carro de som, abraçando eleitor em feira livre?
Aliás, vou te dizer: isso talvez seja até mais saudável do que o que temos hoje. Pelo menos, estariam se submetendo ao voto popular, o que já seria um avanço considerável. Hoje, eles se escondem atrás de uma toga vitalícia, indicados por presidentes que nem sempre estão em seu melhor juízo, e mandam mais que todos os deputados e senadores juntos. Mas se o poder emana do povo, por que os mais poderosos não passam pela urna? A pergunta é incômoda, e é justamente por isso que precisa ser feita.
O que Deltan denuncia — e que muitos ainda fingem não ver — é o grau de ingerência do STF no funcionamento do país. O Congresso hoje legisla sob ameaça. Os parlamentares, especialmente os mais alinhados à direita, sabem que qualquer movimento mais ousado pode render uma investigação, uma cassação relâmpago, ou uma decisão judicial surpresa, daquelas que saem do nada, de madrugada, e mudam o jogo todo.
E se você acha que estou exagerando, lembre-se do próprio Deltan. Eleito com uma votação expressiva, teve seu mandato cassado pelo TSE por uma filigrana jurídica que, se aplicada com o mesmo rigor a outros políticos, esvaziaria metade do Congresso. Mas não. A mira era clara: eliminar quem ousou confrontar o sistema. E o sistema, meu amigo, é frio, calculista e impiedoso.
E por falar em sistema, vamos olhar com atenção para o governo Lula. Porque a ironia da história é essa: o mesmo STF que ajudou a consolidar o petismo de volta ao poder agora ameaça o próprio governo se ele ousar contrariá-lo. É como se o Frankenstein se voltasse contra o seu criador. O lulismo, que há tempos usa a bandeira da “democracia” como escudo para justificar alianças espúrias e práticas autoritárias, agora se vê acuado pelo tribunal que ajudou a empoderar. Uma sinuca de bico deliciosa de assistir — não por sadismo, mas porque expõe as contradições de quem joga o jogo do poder sem princípios.
Mas não se iluda: o alvo final não é o Lula, nem o governo. O alvo é a direita brasileira, especialmente o conservadorismo que vem ganhando força nas ruas, nas igrejas, nas redes sociais. Esse movimento popular que desafia o establishment, que exige ordem, moralidade, respeito às liberdades, incomoda profundamente os donos do poder. E o STF se tornou o instrumento preferido para silenciar essas vozes.
Censura? Temos. Perseguição judicial? Aos montes. Prisões arbitrárias? Também. E tudo isso com a bênção de uma imprensa que finge neutralidade, mas que não esconde seu aplauso aos “justiceiros de toga” quando eles miram os inimigos certos. A democracia, para essa gente, só existe quando serve aos próprios interesses. Fora disso, é “ameaça fascista”, “golpe”, “extremismo”.
E nós? Vamos continuar assistindo passivamente a esse espetáculo deprimente?
Eu não consigo. E você também não deveria. É hora de levantar a voz, de apoiar os que ainda resistem, como Deltan, como tantos deputados e senadores conservadores que tentam, mesmo sob ataques e chantagens, defender a Constituição de verdade — aquela escrita, não a versão imaginária que alguns ministros carregam no bolso da toga.
A proposta de anistia aos parlamentares bolsonaristas — que nada mais é do que um freio no autoritarismo judicial — precisa ser debatida com seriedade. Não pode ser rifada por pressões de bastidor. E se o STF quiser mesmo participar do jogo político, que venha de peito aberto, sem toga, sem foro, sem blindagem. Que enfrente o povo como qualquer outro político. Que se submeta ao voto, à crítica, à prestação de contas. Só assim teremos uma verdadeira república, com freios e contrapesos de verdade.
Enquanto isso não acontece, precisamos estar atentos, vigilantes, mobilizados. Porque o que está em jogo não é uma eleição ou um mandato. É o futuro do Brasil. E esse futuro não pode ser decidido por onze iluminados com caneta na mão e vaidade nos olhos. Tem que ser decidido por você, por mim, por todos nós.
E se depender da minha voz, ela não vai se calar tão cedo.