
Sabe quando você lê uma notícia e sente aquele gosto amargo da hipocrisia institucionalizada? Pois é. Foi exatamente essa sensação que eu tive ao me deparar com o artigo do jornalista André Richter, da Agência Brasil, publicado no dia 25 de abril de 2025, às 20h55. Em tom quase burocrático, ele relata que o Supremo Tribunal Federal (STF), naquela sexta-feira, formou maioria de votos para manter a prisão do ex-presidente Fernando Collor de Mello.
A primeira reação que eu tive foi aquela vontade de rir para não chorar. Sério mesmo. Porque vendo toda essa encenação, com direito a pedido de destaque do ministro Gilmar Mendes e transferência do julgamento para uma futura sessão presencial, eu só consegui pensar: onde estavam esses mesmos ministros, com toda essa pressa e “rigor jurídico”, quando o assunto era Luiz Inácio Lula da Silva?
Fernando Collor foi condenado a 8 anos e 10 meses de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, crimes relacionados à sua influência sobre a BR Distribuidora, subsidiária da Petrobras. R$ 20 milhões em vantagens indevidas, entre 2010 e 2014. Tudo isso conforme a denúncia aceita e julgada pelo STF. E agora, com recursos classificados como “protelatórios” pelo ministro Alexandre de Moraes, a caneta pesou. Pesou mesmo. Mandaram Collor direto para a cadeia.
Agora, vamos dar aquele pulinho maroto no tempo e lembrar de outro réu ilustre: Lula. Sim, o mesmo Lula que foi condenado por corrupção e lavagem de dinheiro no famigerado caso do Triplex do Guarujá e também no sítio de Atibaia. Condenado em duas instâncias, diga-se de passagem, com provas robustas, testemunhas, delações premiadas, perícias documentais e uma sequência de recursos derrubados em todas as esferas.

Você lembra o que aconteceu? Pois é, meu caro leitor: anularam tudo. De repente, os processos foram declarados nulos, as provas desconsideradas, as sentenças desmoralizadas. O mesmo Supremo que agora mostra os dentes para Collor foi o mesmo que, com um sorriso amarelo, abriu caminho para a volta triunfal do “filho do Brasil”.
É ou não é para aplaudir de pé a coerência seletiva?
Olha, eu sei que para muitos, comparar Fernando Collor com Lula pode parecer estranho. Afinal, Collor teve um mandato curto e caiu de forma humilhante num processo de impeachment em 1992. Já Lula, bem… Lula construiu toda uma mitologia ao redor de si. O operário que virou presidente, o “messias dos pobres”. Mas quando você tira a maquiagem, quando você apaga o fogo de artifício da narrativa, o que sobra? Dois políticos envolvidos até o pescoço com a corrupção. Dois homens que colocaram seus interesses pessoais acima do Brasil.
O curioso é observar a diferença de tratamento. Collor é tratado como um delinquente comum, como um exemplo de que a justiça funciona. Já Lula, ah, Lula é blindado. Ele é protegido. Ele é tratado como uma vítima de perseguição política, como um mártir injustiçado que merece aplausos e, quem sabe, um terceiro mandato para “salvar” o país novamente.
E sabe o que mais me revolta? Não é apenas a hipocrisia dos tribunais. É ver parte da sociedade, que deveria ser crítica e vigilante, aceitar essa palhaçada como se fosse normal. Como se fosse justo. Como se o crime pudesse ser relativizado conforme o CPF do réu e a bandeira partidária.
Quando André Richter relata que seis ministros — entre eles Flávio Dino, Edson Fachin, Luís Roberto Barroso, Cármen Lúcia e Dias Toffoli — votaram para manter a decisão de prisão de Collor, eu me pergunto: onde estava toda essa indignação moral quando Lula era julgado? Por que esse mesmo Supremo que agora invoca a “urgência” e a “moralidade pública” demorou tanto para agir contra um condenado que, além de tudo, voltou ao Palácio do Planalto?
O caso de Fernando Collor é um retrato fiel de como a justiça brasileira funciona: seletivamente, com critérios subjetivos, ao sabor dos ventos políticos do momento. Collor caiu em desgraça, perdeu o apoio político, virou um peso morto. Então, agora, é fácil fazer justiça contra ele. Dá voto, dá manchete positiva, dá aquele verniz de seriedade que o Supremo tanto precisa para não afundar de vez no descrédito popular.
Mas e Lula? Lula é diferente. Lula ainda mobiliza massas, ainda assusta elites, ainda é útil para o jogo de poder. Por isso, para ele, a justiça é flexível, generosa, compreensiva. Para ele, sempre há uma desculpa pronta: abuso de autoridade, suspeição do juiz, irregularidades processuais. Coincidências que só a política brasileira consegue explicar…
Se fosse para aplicar a mesma lógica usada contra Collor, Lula jamais teria deixado de ser um presidiário. Jamais teria recuperado seus direitos políticos. Jamais teria se sentado novamente naquela cadeira em Brasília. Mas aqui é Brasil, e no Brasil, o crime compensa — desde que você tenha os amigos certos nos lugares certos.
Aliás, a própria forma como o ministro Alexandre de Moraes fundamentou a prisão de Collor deveria servir de reflexão. Moraes entendeu que os recursos apresentados eram meramente protelatórios. Ora, desde quando usar todos os instrumentos legais disponíveis é motivo para antecipar uma prisão? Quando foi que o direito de defesa virou “abuso de direito”? Ah, claro, esqueci: depende de quem está no banco dos réus.
Enquanto isso, Lula usou todos os recursos possíveis e imagináveis — e até os impossíveis — para escapar das condenações. E não só escapou: foi absolvido, inocentado, glorificado. Quem ousa levantar a voz contra isso, hoje, é tratado como golpista, como antidemocrático, como inimigo da república.
É por isso que eu digo, com toda a serenidade e tristeza no coração: a justiça no Brasil morreu. O que existe hoje é um teatro. Um espetáculo grotesco onde os culpados posam de vítimas e as vítimas são caladas como criminosos. Um teatro onde a toga serve não para julgar com isenção, mas para legitimar o poder daqueles que controlam os bastidores.
Você, leitor conservador que ainda acredita nos valores da verdade, da moralidade e da lei, precisa entender isso: não existe mais neutralidade nas instituições. Quem governa hoje não são os eleitos — são os togados, os intocáveis, os senhores do destino da república.
Fernando Collor e Lula são duas faces da mesma moeda corrupta. Mas só um deles vai para a cadeia. E isso, meu amigo, diz tudo sobre o Brasil de 2025.
Talvez você ainda tenha esperança de que um dia veremos justiça de verdade sendo feita neste país. Eu também tenho essa esperança — mas sei que ela não virá das cúpulas que hoje mandam e desmandam em Brasília. Virá do povo. De nós. De uma geração que se recuse a engolir passivamente esse sistema apodrecido.
Por isso, não se engane. Não aceite narrativas prontas. Não se cale diante da injustiça mascarada de democracia. Questione. Denuncie. Lute. Porque, no final das contas, o futuro do Brasil — o verdadeiro Brasil — depende apenas de nós.
E para quem ainda acredita em Papai Noel, em Saci-Pererê e na imparcialidade do STF… só posso desejar boa sorte. Vai precisar.