
Você acorda cedo. Pega um ônibus lotado, enfrenta trânsito, paga imposto até para respirar. No fim do mês, o dinheiro mal cobre as contas. E, como se não bastasse todo esse sufoco, você abre o noticiário — ou melhor, aquela versão pasteurizada da realidade — e se depara com isso: “Câmara aprova projeto que amplia número de deputados federais”,Agência Brasil, no dia 07/05/2025 às 07:12. Sim, às sete da manhã, antes mesmo de você ter tomado seu primeiro café, eles já estavam criando mais despesa com o seu dinheiro.
De 513 para 531 deputados federais. Um acréscimo de 18 parlamentares. Não, você não leu errado. Não é brincadeira. Eles realmente decidiram que o Brasil — esse país já atolado em impostos, crises e escândalos — precisa de mais políticos em Brasília. E sabe qual é o argumento usado para essa obra-prima da insensatez? O tal “crescimento populacional”.
A desculpa é bonita. Cheira a técnica. Cheira a constitucionalismo. Mas vamos ser sinceros: você acha mesmo que isso tem algo a ver com “representatividade”? Com “equidade regional”? Ou você enxerga, com a clareza que só a realidade impõe, que isso é mais uma manobra para acomodar interesses, inflar bancadas e distribuir emendas parlamentares como se fossem brindes em feira política?
Você, que trabalha duro e sustenta essa máquina inchada, precisa entender que isso não é apenas um número. Não são apenas 18 novos cargos no papel. Estamos falando de gabinetes, assessores, verbas de gabinete, auxílio-moradia, plano de saúde vitalício, passagens aéreas, segurança, carros oficiais e mais uma fila de mordomias que dariam inveja até mesmo a marajás do Oriente.
Cada novo deputado custa, em média, mais de R$ 2 milhões por ano aos cofres públicos. Faça as contas. São mais de R$ 36 milhões por ano, e isso apenas com os titulares. Sem contar a inflação de apadrinhados e assessores que orbitam esses gabinetes como satélites ávidos por sinecuras. Você paga essa conta. Todo mês. Todo dia. Toda hora.
E o mais cínico — sim, essa é a palavra: cínico — é que a proposta mantém o número de cadeiras dos estados que perderiam vagas, caso fosse seguido o cálculo proporcional do Censo 2022. Ou seja, mesmo estados que deveriam ter menos deputados, por terem perdido população ou crescido menos, continuarão com o mesmo número de representantes. O motivo? Segundo o relator, Damião Feliciano (União-PB), a série é injustapoliticagem barata, de barganha federativa, de tomar.
A ironia? O projeto que encabeça essa aberração é da deputada Dani Cunha (União-RJ), filha de ninguém menos que Eduardo Cunha. Sim, aquele mesmo que protagonizou um dos maiores escândalos de corrupção da história recente. Parece que certas tradições familiares se perpetuam na política brasileira. E você, claro, é o herdeiro forçado da conta.
Ah, e pra dar um verniz técnico na coisa, ainda revogaram a Lei Complementar, que determinava uma fórmula de cálculo objetiva para definir o número de cadeiras por estado. Agora vale o “critério político”. Entenda-se: agora vale o que for mais conveniente para garantir alianças, votos em plenário e controle de emendas.
Quer saber o que é mais revoltante? Isso tudo só está acontecendo porque, em agosto de 2023, o Supremo Tribunal Federal (STF)—
Você percebe a engrenagem? O STF pressiona, o Congresso se acomoda, os partidos comemoram. E o cidadão comum? O cidadão comum assiste ao circo pegar fogo enquanto segura a mangueira furada da esperança.
Enquanto isso, hospitais públicos estão em colapso. Crianças estudam em escolas com teto caindo. Policiais arriscam a vida com coletes vencidos. Estradas esburacadas matam mais que guerras. Mas Brasília segue crescendo — não em virtude, não em eficiência, mas em tamanho e em despesa. Porque, no fim das contas, sempre tem espaço para mais um político. Só não tem espaço para sua dignidade.
Você lembra quando disseram que a reforma administrativa era urgente? Que era preciso cortar gastos? Lembra dos discursos inflamados contra os privilégios da classe política? Pois é. Agora você vê a realidade. E a realidade tem nome: hipocrisia institucionalizada.
Esses 18 novos deputados são como uma tatuagem no rosto da democracia: impossível de ignorar e difícil de explicar. Porque você sabe, e eu sei, que a intenção não é melhorar a representatividade. A intenção é garantir votos em troca de benesses. É manter as panelinhas unidas, as alianças firmes e os cofres abertos.
Você vê como a política brasileira não cansa de testar a paciência do cidadão de bem? Como ela tripudia do trabalhador honesto, que carrega nas costas uma estrutura que só cresce — e nunca melhora? É como se o sistema gritasse na sua cara: “Você serve para pagar. Nós servimos para gastar.”
E ainda vão vender isso como avanço democrático. Como correção histórica. Como justiça federativa. É o tipo de mentira repetida com tanta convicção, que quem não está atento até acredita.
Não se engane: mais deputados não significam mais democracia. Significam mais corrupção, mais barganha, mais rombo. É mais um passo rumo ao colapso institucional em que o Estado serve a si mesmo e ignora quem realmente deveria representar.
E quem discorda disso? Poucos. Quase ninguém levanta a voz. Porque criticar esse tipo de medida é “impopular” dentro do Congresso. É perder acesso ao bolo. É ficar de fora da partilha. O silêncio ensurdecedor dos que dizem nos representar grita mais alto que qualquer discurso.
Você já percebeu como, em Brasília, ninguém fala de diminuir o número de ministérios? De cortar assessores? De reduzir regalias? Mas todos estão dispostos a ampliar o próprio poder. Sempre. Com o seu dinheiro. Em seu nome. E contra você.
É por isso que nós, conservadores de verdade, precisamos ser a voz da razão nesse mar de insanidade. Precisamos denunciar essa vergonha nacional. Precisamos mostrar que existe, sim, um Brasil que não se vende, que não se curva, que não aceita passivamente ser explorado por aqueles que se escondem atrás da imunidade parlamentar.
Porque você não é otário. Você vê o jogo. Você entende o script. E, acima de tudo, você sente no bolso — e no coração — as consequências de viver em um país onde quem manda são sempre os mesmos e quem paga é sempre você.
Essa aprovação na Câmara não é apenas mais uma notícia entre tantas. É um símbolo. Um aviso. Um escárnio. É como se dissessem abertamente: “Sim, vamos aumentar o número de deputados. E você, que nos sustenta, vai engolir calado.”
Mas você não vai. Você está aqui. Você está informado. E você vai compartilhar isso. Vai falar com seus amigos, com seus familiares, com seus vizinhos. Vai mostrar que existe um outro lado. Que ainda há quem pense, questione e resista.
Porque se você não fizer isso, ninguém mais fará.
Com informações Agência Brasil