
O que aconteceu em Portugal no último domingo, 18 de maio de 2025, não foi apenas uma eleição parlamentar. Foi, com todas as letras, uma ruptura histórica com um sistema político que há décadas se retroalimentava em um jogo de revezamento entre socialistas e sociais-democratas, com uma previsibilidade que beirava o tédio. E quando a previsibilidade se quebra por completo, resta apenas o impacto. E que impacto.
Segundo reportagem do jornalista Duda Teixeira, da revista Crusoé, o Partido Socialista (PS), fundado por figuras de peso como Mário Soares e que já foi liderado por ícones da esquerda europeia como António Guterres, simplesmente viu seu castelo de cartas ruir. Com 23,4% dos votos, conquistou 58 cadeiras no Parlamento. O mesmo número de cadeiras que o Chega, partido de direita nacionalista liderado por André Ventura, que obteve 22,6%.
Sim, você leu certo: os socialistas quase ficaram em terceiro lugar. Algo inimaginável desde o retorno da democracia portuguesa, em 1974. Um abalo sísmico na estrutura política que sustentou a ilusão de que os extremos sempre seriam contidos pela “moderação” de centro. Essa mesma moderação que, de tanto fazer concessões à esquerda progressista, esqueceu o povo real e suas angústias cotidianas.
André Ventura, com a contundência típica de quem sabe o que diz e não teme as reações dos colunistas “progressistas”, declarou o óbito político de um sistema que já se mantinha artificialmente por aparelhos:
“Hoje podemos declarar oficialmente, perante o país todo e com segurança, que acabou o bipartidarismo em Portugal.”
E não há como negar. A ascensão do Chega é mais do que um fenômeno eleitoral: é uma declaração de insatisfação profunda da sociedade portuguesa com os rumos do país. O crescimento do partido, considerado por muitos analistas como “populista de direita” — como se a pecha fosse argumento — se dá em meio a um cenário de desilusão com a classe política tradicional, escândalos de corrupção e políticas de imigração que provocaram rupturas na segurança social.
É claro que o Partido Social-Democrata (PSD), de centro-direita, saiu tecnicamente vencedor. Seu líder, Luís Montenegro, tentará montar um governo, mas sem maioria no Parlamento. A depender das circunstâncias, poderá se ver obrigado a dialogar com a direita que antes fingia ignorar. A democracia tem dessas ironias: ou você ouve a voz do povo, ou é engolido por ela.
E Ventura sabe disso. Disse, com clareza e altivez:
“O Chega superou o partido de Mário Soares. O Chega superou o partido de António Guterres.”
Os símbolos da esquerda agora servem como marcos do passado — e como advertência. Uma advertência que a esquerda insiste em não ouvir, preferindo recorrer às suas pautas identitárias e políticas de gabinete, desconectadas da realidade que pulsa nas ruas portuguesas, nas pequenas cidades, nos bairros onde o crime aumentou e a esperança diminuiu.
E se ainda há dúvidas do caráter histórico da derrota socialista, o próprio deputado Sergio Sousa Pinto, do Parlamento Europeu, não hesitou em classificá-la como um
“desastre de proporções históricas para o PS.”
Para piorar (ou melhorar, dependendo da perspectiva), Pedro Nuno Santos, líder do PS, renunciou logo após o anúncio dos resultados, ciente de que não havia discurso que pudesse justificar o vexame eleitoral. E aqui, vejamos com frieza os números: em 2005, com José Sócrates, o partido obteve 45% dos votos e uma maioria absoluta no Parlamento. Uma era de hegemonia e arrogância começou ali — e se encerra agora com 23%, dividindo espaço com um partido que nasceu justamente da insatisfação contra os desmandos da velha guarda política.
O caminho da degradação socialista em Portugal não é apenas aritmético, mas também moral e simbólico. A cada eleição, as promessas do “socialismo democrático” iam perdendo força, enquanto os escândalos de corrupção ganhavam os noticiários. O povo percebeu. O povo aprendeu. E agora, o povo puniu.
O que surpreende é o ritmo acelerado da queda. Em 2009, o PS caiu para 36%. Em 2015, foi a 28%. Em 2019, com António Costa, voltou a subir — um suspiro com 36%. Mas a ilusão durou pouco. Um novo escândalo de corrupção envolvendo membros do governo fez ruir novamente a credibilidade do partido, que em 2024 caiu para 28%. E agora, a derrocada final com 23%.
O eleitor português deixou de ser indulgente. Deixou de acreditar que os erros são acidentes. Começou a entender que os erros são o sistema. E, como sempre ocorre quando as elites não escutam, a alternativa foi surgir por fora, por meio de uma força política nova, combativa, nacionalista, e — por que não dizer? — conservadora.
O Chega representa mais do que uma sigla. Representa a voz sufocada da maioria silenciada, que sempre foi tratada como retrógrada, preconceituosa ou ignorante por intelectuais de redação e artistas com isenção seletiva. André Ventura, por sua vez, teve a coragem de dizer o que muitos pensavam, mas não ousavam verbalizar.
A esquerda portuguesa — e, por extensão, a esquerda europeia — precisa olhar com atenção para o que está acontecendo. Porque não se trata apenas de uma derrota eleitoral. Trata-se de um sinal de falência ideológica, de esgotamento retórico, de perda de conexão com as aspirações reais da população. Continuar acreditando que os ventos conservadores são temporários é repetir o erro cometido na Hungria, na Itália, na Suécia, e até mesmo na França.
O mundo mudou. E mudou rápido. O que antes era considerado “extremo” agora virou mainstream, não por força de marketing, mas porque os fatos exigiram novas respostas. O conservadorismo deixou de ser um rótulo para se tornar a única trincheira racional contra a decadência moral, institucional e econômica promovida pelo progressismo desvairado.
Se Portugal está na vanguarda dessa mudança, é porque o eleitorado teve coragem de romper com o establishment. Coragem de dar ouvidos a alguém que, embora demonizado pela imprensa e por acadêmicos, ousou defender fronteiras, cultura, tradição e soberania.
O recado está dado. Portugal não quer mais promessas vazias. Quer resultados. Quer segurança. Quer identidade nacional. E, acima de tudo, quer liberdade para ser o que é, sem precisar pedir desculpas por isso.
A lição que fica, para os brasileiros que acompanham de perto os movimentos políticos globais, é clara: a história não é linear, e o futuro pertence àqueles que têm coragem de quebrar os velhos paradigmas. A esquerda, em sua arrogância, acreditava que o poder era cativo. Esqueceu-se de que, em democracias verdadeiras, o povo tem a última palavra.
E em Portugal, o povo falou. Alto. Claro. E com um sotaque inconfundivelmente conservador.
Com informações Crusoé