
Os preços dos alimentos e bebidas continuam a ser uma bomba-relógio no orçamento das famílias brasileiras, e a tendência para 2025 não é das melhores. Se você já sentiu o peso das compras no mercado nos últimos meses, prepare-se: a inflação desse setor não apenas superou a média geral, como deve seguir firme no topo das preocupações da população, especialmente para aqueles que já destinam uma parcela significativa da renda a esses itens essenciais.
Nos últimos 12 meses até janeiro, o preço desses produtos subiu 7,25%, enquanto a inflação geral ficou em 4,56%, um contraste que evidencia o peso dessa alta na vida do consumidor comum. E embora alguns especialistas falem em desaceleração nos primeiros meses do ano, isso não significa que os preços vão cair – pelo contrário, continuarão subindo, apenas em um ritmo menor.
E o que está por trás dessa escalada de preços? O economista-chefe da Associação Paulista de Supermercados (Apas), Felipe Queiroz, aponta para uma combinação de fatores que vão desde o clima, passando pelo câmbio, até a demanda global e local. Ou seja, não há uma solução simples, nem um vilão único a ser combatido.
Guilherme Gomes, especialista da Warren Investimentos, projeta que o primeiro semestre de 2025 pode trazer um alívio momentâneo, especialmente para os preços dos alimentos in natura, como frutas, legumes e verduras. Mas se você esperava que essa tendência se mantivesse para o resto do ano, pode tirar o cavalo da chuva: o segundo semestre tende a trazer novos aumentos, e algumas categorias específicas, como carnes, devem continuar pressionando os custos de quem faz feira e mercado.
E falando em carne bovina, você já deve ter percebido que os preços não dão trégua. O valor da arroba do boi gordo, que chegou a R$ 325 em janeiro, não deve cair tão cedo. As razões? Um mix de exportações aquecidas e alta demanda interna, conforme aponta Alcides Torres, da Scot Consultoria. E se você acha que trocar a carne bovina por suína ou frango pode aliviar o bolso, não se anime tanto: essa migração do consumo deve pressionar também os preços dessas proteínas alternativas.
E o café? O querido cafezinho do brasileiro também entrou na dança da inflação. A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) já prevê uma queda de 4,4% na produção nacional, resultado de efeitos climáticos adversos acumulados nos últimos anos. O resultado? Um aumento de 8,6% no preço do café moído para o consumidor apenas em janeiro, enquanto o café servido fora de casa subiu 2,7%, segundo o IBGE. E isso sem contar os impactos das dificuldades logísticas que vêm afetando países exportadores, como o Vietnã, que está tendo problemas para escoar sua produção para a Europa.
Se há algum respiro no meio dessa tormenta inflacionária, ele pode vir do óleo de soja. Embora o IBGE aponte uma alta acumulada de 24,6% no último ano, a expectativa é de que uma safra recorde de grãos no Brasil possa segurar os preços. A Conab estima uma colheita de 166 milhões de toneladas de soja, um crescimento de 12,4% em relação ao ciclo anterior. Além disso, desde o início do ano, o preço da saca de 60 kg no Porto de Paranaguá caiu 6,2%, segundo dados do Cepea-Esalq/USP.
Mas antes que você respire aliviado, é bom lembrar que o preço internacional da soja não segue a mesma lógica. Enquanto aqui dentro os preços podem até ter uma trégua, no cenário global as cotações seguem pressionadas pelo clima adverso na Argentina e nos EUA, dois dos principais concorrentes do Brasil no setor. Para os exportadores brasileiros, isso pode até ser uma boa notícia, já que cria oportunidades de mercado, mas para o consumidor final, o impacto não deve ser tão positivo.
Diante desse cenário, a realidade é que a inflação dos alimentos e bebidas continuará sendo um grande desafio para os brasileiros em 2025. Os custos ainda pesam no orçamento familiar e, apesar de momentos pontuais de alívio, a pressão sobre os preços não vai desaparecer tão cedo. O que resta? Manter um planejamento cuidadoso, buscar alternativas mais acessíveis e, principalmente, cobrar políticas que realmente enfrentem os desafios estruturais da inflação alimentar no país.
Com informações Gazeta do Povo