“Com Haddad e Tebet, governo deve anunciar hoje congelamento de recursos do Orçamento de 2025”, diz O Globo

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Com direito a coletiva de imprensa encenada por Fernando Haddad e Simone Tebet, os ministros que parecem se revezar entre discursos otimistas e a dura realidade orçamentária, o governo federal está prestes a anunciar um congelamento de recursos no Orçamento de 2025. Segundo reportagem de Thaís Barcellos, publicada em O Globo, essa é a primeira vez que os dois titulares da equipe econômica participam juntos da entrevista sobre o Relatório Bimestral de Receitas e Despesas — um ritual técnico que agora ganha holofotes políticos. O objetivo? Passar a mensagem de que o governo está comprometido com a disciplina fiscal. A realidade? Bem mais complicada.

O Brasil vive hoje um teatro fiscal. Cada relatório, cada declaração, cada gesto do governo é cuidadosamente ensaiado para parecer seriedade, enquanto, nos bastidores, o que se desenrola é uma crise silenciosa de credibilidade. O congelamento de verbas, em tese, visa atender ao novo arcabouço fiscal — esse arranjo legal mirabolante criado para substituir o Teto de Gastos, que, convenhamos, o governo atual nunca gostou. Mas até mesmo essa nova âncora já começa a ceder às pressões políticas por mais gasto e menos responsabilidade.

Fernando Haddad, sempre com a voz pausada e o olhar de técnico responsável, tentou minimizar o impacto da medida. “Não é um pacote, são medidas pontuais”, afirmou, como se o país fosse um condomínio e ele estivesse apenas ajustando o orçamento do jardim. Em sua fala, não há crise, não há urgência — apenas um “conjunto de medidas corriqueiras da administração séria”. O problema é que o Brasil não vive uma normalidade administrativa. Vivemos sob um Estado inchado, com despesas crescentes, um setor público hipertrofiado e uma arrecadação que depende cada vez mais de manobras extraordinárias.

Para manter a meta fiscal de déficit zero neste ano — meta essa que possui uma margem de tolerância de R$ 31 bilhões para mais ou para menos — o governo terá que fazer malabarismos. O Orçamento de 2024 foi aprovado com previsão de superávit de R$ 15 bilhões, algo que já nasceu como ficção. Segundo especialistas, os números estão inflados de otimismo: receitas superestimadas e despesas subestimadas. Um clássico da engenharia contábil à brasileira.

É nesse contexto que entra a previsão de R$ 168 bilhões em receitas extraordinárias para fechar as contas de 2024. Um número mágico que inclui, entre outras fantasias, a expectativa de entrada de R$ 28,5 bilhões via o Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf). O mesmo Carf que, no ano passado, prometia entregar R$ 56 bilhões e gerou menos de R$ 1 bilhão. Isso mesmo: uma diferença de R$ 55 bilhões entre a promessa e a entrega. Mas o governo insiste. Porque no Brasil, a esperança é receita orçamentária.

Enquanto isso, os benefícios previdenciários e assistenciais — como o BPC — continuam pressionando as despesas. Esses gastos são obrigatórios, crescem em ritmo acelerado, e não há qualquer sinal de reforma estrutural à vista. Nenhuma proposta para rever regras, idade mínima, indexações automáticas. Tudo segue como está, porque mexer nisso custa votos — e o governo prefere perder o controle das contas a perder apoio político.

O economista-chefe da Warren Investimentos, Felipe Salto, reconhece o problema e calcula que seria necessário um congelamento de R$ 25 a R$ 30 bilhões para que a medida tivesse algum impacto real. Mas o governo deve anunciar algo em torno de R$ 15 bilhões, empurrando com a barriga e torcendo para que a arrecadação continue a surpreender positivamente. É a política do “vamos ver”, do “ao longo do ano a gente avalia”. Uma estratégia que seria aceitável em tempos de bonança, mas que beira a irresponsabilidade diante do quadro fiscal atual.

Para o economista do Barclays, Roberto Secemski, um congelamento mais robusto — acima dos R$ 15 bilhões — seria bem-visto pelo mercado. Sinalizaria prudência, compromisso, seriedade. Mas o governo hesita. Afinal, cortar gastos é impopular, e Lula não foi reeleito para desagradar sua base.

O congelamento de verbas, por si só, já é um sinal de alerta. Mostra que o governo reconhece que as contas não fecham. Mas congelar R$ 15 bilhões em um orçamento de mais de R$ 5 trilhões é como tentar conter um incêndio com um copo d’água. É insuficiente, paliativo, simbólico. Não é um plano, é uma encenação.

E é justamente isso que assusta: a falta de rumo. O Brasil não precisa de congelamentos pontuais ou receitas extraordinárias baseadas em fé tributária. Precisamos de uma reforma fiscal séria, estrutural, profunda. Que revise benefícios, que combata privilégios, que simplifique o sistema tributário sem apenas aumentar a carga. Precisamos de uma política econômica que seja feita para durar, e não para durar no cargo.

É curioso observar a participação dos ministros Haddad e Tebet na coletiva. Uma tentativa clara de dar peso político ao anúncio. Porque no fundo, eles sabem que estão vendendo uma solução incompleta. A presença deles serve para reforçar a narrativa de responsabilidade — algo que o governo precisa desesperadamente sustentar diante dos investidores, do mercado, e da própria realidade. Mas palavras, por mais técnicas ou bem-intencionadas que sejam, não alteram os números.

O Brasil está vivendo um momento de inflexão fiscal, e o governo parece ainda não ter entendido a gravidade disso. Cada novo relatório bimestral, cada nova estimativa, cada fala otimista precisa ser contrastada com a frieza dos dados. Não basta arrecadar mais, é preciso gastar melhor. Não basta congelar, é preciso reformar.

É fácil jogar para a plateia e dizer que “não há pacote, apenas medidas pontuais”. Difícil é enfrentar o corporativismo, as pressões sindicais, os lobbies, e propor mudanças que incomodem setores protegidos. Difícil é dizer não a aliados, cortar ministérios inúteis, rever políticas de transferência mal calibradas. Difícil é governar pensando no país e não apenas no próximo ciclo eleitoral.

Mas essa dificuldade é exatamente o que diferencia estadistas de gestores interinos. O Brasil precisa urgentemente de decisões impopulares — mas corajosas. De uma política que olhe para as próximas décadas, e não para os próximos meses. De um governo que entenda que a popularidade construída sobre areia fiscal vai ruir mais cedo ou mais tarde.

Enquanto isso, seguimos com relatórios bimestrais como cortinas de fumaça, coletivas de imprensa com ministros como atores de um roteiro otimista e cenários orçamentários que não se sustentam. A farsa da responsabilidade fiscal continua — e quem paga a conta é você, contribuinte brasileiro, que trabalha três, quatro meses por ano apenas para manter um Estado que se nega a enxugar a própria máquina.

No final, o recado que fica é simples: o governo reconhece o rombo, mas se recusa a tratá-lo com a seriedade que o momento exige. E, mais uma vez, a classe política demonstra que está mais preocupada com a próxima manchete do que com o futuro da nação.

Com informações O Globo

Leandro Veras

Editor do Conservadores Online, é cristão, conservador e analisa os bastidores da política com visão crítica e firmeza.

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