
A recente condenação do ex-primeiro-ministro da República Democrática do Congo, Augustin Matata Ponyo, a dez anos de trabalhos forçados por desvio de US$ 245 milhões de recursos públicos, representa um marco na luta contra a corrupção em países historicamente marcados por instabilidade política e econômica. Mesmo diante de desafios estruturais, o Congo demonstrou que é possível responsabilizar líderes de alto escalão por crimes contra o erário. Enquanto isso, no Brasil, escândalos de corrupção continuam a emergir, muitas vezes sem a devida responsabilização dos envolvidos.
O caso mais recente envolve o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), onde uma fraude bilionária prejudicou milhões de aposentados e pensionistas. A “Operação Sem Desconto”, deflagrada pela Polícia Federal em abril de 2025, revelou que entre 2019 e 2024, cerca de R$ 6,3 bilhões foram desviados por meio de descontos não autorizados nos contracheques de beneficiários do INSS. Esses descontos eram realizados por entidades sindicais e associações de classe, muitas vezes sem o consentimento dos aposentados, explorando brechas no sistema de repasses de benefícios.
O escândalo levou à demissão do então presidente do INSS, Alessandro Stefanutto, e à renúncia do ministro da Previdência Social, Carlos Lupi. Embora Lupi tenha afirmado que seu nome não foi citado nas investigações, sua saída foi vista como uma tentativa de conter a crise política que se instalou no governo. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, por sua vez, determinou a exoneração imediata de Stefanutto e prometeu rigor nas apurações.
No entanto, a resposta do governo federal tem sido considerada insuficiente por muitos. O senador Izalci Lucas (PL-DF) afirmou que a fraude no INSS revela “a degradação institucional do Estado brasileiro” e pediu a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar o caso. Além disso, a Controladoria-Geral da União (CGU) identificou que 97% das vítimas das fraudes não autorizaram os descontos e que 70% das entidades beneficiadas não tinham documentação completa para firmar os acordos com o INSS.
Este não é um caso isolado na história recente do Brasil. O país tem sido palco de diversos escândalos de corrupção envolvendo figuras políticas de destaque. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, por exemplo, foi implicado na Operação Lava Jato, que investigou um esquema de corrupção na Petrobras envolvendo bilhões de reais em propinas. Embora suas condenações tenham sido anuladas pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por questões processuais, muitos questionam a lisura do processo e a impunidade que parece prevalecer.Time

Outro caso emblemático é o da Operação Janus, que investigou se Lula praticou tráfico internacional de influência em favor da construtora Odebrecht. A operação apurou contratos suspeitos entre a empresa e uma firma pertencente ao sobrinho de Lula, Taiguara Rodrigues dos Santos. Apesar das evidências, o caso não resultou em condenações significativas.
A recorrência de escândalos de corrupção no Brasil, sem a devida responsabilização dos envolvidos, contribui para a descrença da população nas instituições e na classe política. Enquanto isso, países como a República Democrática do Congo, com recursos e estruturas institucionais mais limitados, conseguem avançar no combate à corrupção, demonstrando que a vontade política é um fator determinante na luta contra esse mal.
É imperativo que o Brasil adote medidas mais eficazes para prevenir e punir a corrupção. Isso inclui o fortalecimento das instituições de controle e fiscalização, a garantia de autonomia para órgãos como a Polícia Federal e o Ministério Público, e a implementação de penas mais severas para os crimes contra o erário. Além disso, é fundamental promover uma cultura de integridade e ética na administração pública, com transparência e participação social.
A sociedade brasileira não pode mais tolerar a impunidade e a recorrência de escândalos de corrupção. É necessário exigir responsabilidade dos governantes e representantes eleitos, bem como apoiar iniciativas que visem a moralização da política e a proteção dos recursos públicos. Somente assim será possível construir um país mais justo, ético e comprometido com o bem-estar de sua população.
Com informações BBC