
Enquanto o senador Jaques Wagner (PT-BA) tenta posar de estadista no GloboNews Debate, defendendo a “efetividade” das investigações conduzidas pela Polícia Federal (PF) e pela Controladoria-Geral da União (CGU) sobre o esquema bilionário de fraudes no INSS, a jornalista Malu Gaspar, de O Globo, já tinha entregado ao público uma pérola rara no jornalismo político brasileiro publicada no dia 13/05: a realidade nua e crua, sem o verniz vermelho da retórica palaciana. Tanto que na época, Jaques Wagner, chegou afirmar que a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) proposta por opositores ao governo Lula, seria apenas uma tentativa de “chover no molhado” e criar um “palanque político”. Ora, que conveniente. Quando a lama ameaça respingar no governo, a tática é sempre a mesma: empurrar para debaixo do tapete com a desculpa de que “já está sendo investigado”. Mas vamos aos fatos, porque eles importam — e muito.
A narrativa construída pelo senador petista gira em torno de três pilares frágeis: primeiro, de que o governo Lula é o herói que está “apurando tudo com rigor”; segundo, de que as fraudes foram herdadas do “governo anterior”; e terceiro, de que não há necessidade de uma CPMI porque o sistema de justiça está funcionando. E é aí que entra o trabalho da jornalista Malu Gaspar, que destrincha com precisão cirúrgica como o próprio PT e seus aliados no Congresso atuaram ativamente para derrubar vetos e afrouxar os controles legais que protegiam os aposentados.
Enquanto Jaques Wagner aponta o dedo para o passado — algo bastante conveniente para quem está com as mãos mergulhadas no presente — Malu Gaspar apresenta documentos, registros da Câmara e do Senado e análises técnicas que revelam o oposto do discurso oficial: a esquerda, liderada pelo PT, capitaneou um esforço legislativo para ampliar os prazos e flexibilizar os critérios de cadastramento das entidades que hoje estão no centro do escândalo.
A fraude no INSS começou no governo Bolsonaro. Quem desmontou o esquema foi o governo @LulaOficial @PTnoSenado @ptbrasil.
— Jaques Wagner (@jaqueswagner) May 21, 2025
Agora, quem nada fez pra conter a roubalheira tenta empurrar a culpa pra quem salvou os aposentados.
A verdade tá posta:https://t.co/Q4Q82HJozY
Vamos repetir isso com todas as letras: não foi o governo Bolsonaro quem “facilitou” as fraudes. Foi o Congresso de maioria petista — quando na oposição — que agiu conscientemente para fragilizar os mecanismos de controle.
E, para usar a expressão preferida de Wagner, isso não é chover no molhado. Isso é acender a luz num porão que o governo Lula tenta manter às escuras.
É preciso destacar o papel trágico que a MP 871/2019, editada pelo governo Bolsonaro, desempenhou nesse enredo. Apresentada com o intuito de fazer um pente-fino nos benefícios e combater fraudes no sistema, a MP foi violentamente atacada pela esquerda sob o argumento de que “cassava direitos dos aposentados” — como se proteger o sistema da corrupção institucionalizada fosse um atentado aos pobres.
Em nome dessa narrativa, o PT trabalhou contra o texto da MP, derrubando artigos fundamentais e exigindo que a proposta fosse afrouxada. E foi exatamente o relaxamento desses mecanismos — inclusive a derrubada do dispositivo que dava ao INSS acesso a dados da Receita Federal — que abriu as portas para o escândalo que hoje está sendo “investigado com rigor”.
O que Jaques Wagner e seus colegas tentam esconder é que esse mesmo dispositivo vetado por pressão do então Ministério da Economia — e mantido pelo Congresso com apoio dos petistas — teria impedido o vazamento de dados de 40 milhões de brasileiros. Sim, quarenta milhões. E foi justamente esse vazamento que permitiu a formação de associações fantasmas, muitas delas criadas na gestão anterior — é verdade —, mas validadas e autorizadas a operar sem qualquer controle no novo governo.
Aliás, a tentativa de criar um “marco temporal de responsabilidade” — como se tudo tivesse acontecido até 2022 e nada mais — é intelectualmente desonesta. As fraudes explodiram em 2023 e 2024, com picos de filiações fraudulentas ocorrendo justamente antes da entrada em vigor de novas regras, como a exigência de biometria.
.@jaqueswagner desmonta a narrativa da oposição de que o governo Lula demorou a agir para acabar com as fraudes no INSS. Parece brincadeira: quem nada fez para conter a roubalheira, agora quer empurrar a responsabilidade para quem salvou os aposentados! pic.twitter.com/JnARgRHylH
— PT no Senado (@PTnoSenado) May 21, 2025
Coincidência? Claro que não.
Jaques Wagner tenta explicar esse fenômeno dizendo que os fraudadores “se apressaram” ao perceber que o cerco iria fechar. Mas como esses fraudadores sabiam disso? Quem os avisou? Quem estava responsável pela fiscalização quando essas filiações em massa ocorreram? E mais: como essas associações foram autorizadas a operar sem verificação documental? O senador não responde. Apenas insinua que o mal veio do passado — e que o presente é só consequência inevitável.
A desculpa de que “estamos punindo e investigando” é outro embuste político clássico. O governo não age por vontade própria. Age porque foi pressionado pelas redes sociais, por parlamentares da oposição e pela cobertura da imprensa que, como a de Malu Gaspar, rompeu a blindagem vermelha de Brasília.
Basta olhar os números: enquanto entidades históricas como a CONTAG movimentaram R$ 230 milhões, as associações criadas durante o governo Bolsonaro movimentaram R$ 2,1 bilhões. Não há como ignorar o salto. Mas a pergunta que não quer calar é: quem permitiu que essas entidades fantasmas continuassem operando após janeiro de 2023? Quem deveria estar fiscalizando e não fiscalizou?
Além disso, os personagens investigados são velhos conhecidos do sistema. José Carlos Araújo, Maurício Camisotti, e outros nomes surgem novamente como peças centrais no tabuleiro da fraude. Se estavam ativos no governo anterior, por que não foram afastados em 2023? Por que continuaram operando livremente até o escândalo estourar? E mais uma vez, o senador silencia.
O governo Lula agora tenta conter o “efeito Nikolas” nas redes sociais, referindo-se ao deputado Nikolas Ferreira (PL-MG), que vem liderando uma ofensiva digital com milhões de visualizações, cobrando explicações, documentos e responsabilizações. Em vez de responder com fatos, o Palácio do Planalto responde com narrativas. E quando a narrativa falha, o PT envia nota oficial dizendo que agiu “em defesa dos direitos dos aposentados”.
Direitos? Os mesmos direitos violados por descontos indevidos autorizados sem o consentimento dos beneficiários? Onde está a defesa dos idosos que viram parte de seus benefícios desaparecerem por obra de associações fantasmas validadas pela burocracia complacente do governo?
A verdade é mais simples do que o governo gostaria: o PT atuou ativamente para enfraquecer os mecanismos de controle e agora tenta se posicionar como paladino da moralidade. Mas os documentos mostram outra coisa. As CPIs e CPMIs existem justamente para investigar o que está por trás das investigações “em curso” — especialmente quando essas investigações envolvem aliados do próprio governo.
O que o povo quer saber é: quem autorizou, quem se beneficiou, e quem encobriu? E para essas perguntas, nenhuma resposta foi dada pelo senador Jaques Wagner. Apenas malabarismos retóricos que servem para alimentar manchetes, mas não para saciar a sede por justiça.
Enquanto isso, milhões de aposentados continuam sem saber quem roubou o que era deles.
Não se trata de “palanque político”, senador. Trata-se de responsabilidade institucional.
E, neste caso, a verdade é que o governo Lula não está sendo vítima das fraudes. Está sendo cúmplice por omissão. E o povo brasileiro — especialmente os mais vulneráveis — merecem muito mais do que notas oficiais e justificativas esfarrapadas.