Galípolo barra Haddad e expõe crise interna no governo Lula sobre o IOF

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Brasília, como de costume, mais uma vez foi palco de uma guerra fria institucional. Mas, desta vez, não foi apenas o previsível conflito entre o mercado e o governo. O embate foi mais profundo, mais revelador — e mais preocupante. A crise que emergiu com a tentativa fracassada do governo de ampliar o IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) sobre fundos no exterior escancarou o que até agora se sussurrava nos corredores do poder: o Banco Central já não caminha junto com a Fazenda, e o clima de desconfiança atingiu níveis alarmantes.

O episódio, revelado em detalhes pela jornalista Malu Gaspar, de O Globo, vai muito além de uma disputa técnica ou um “mal-entendido” entre autoridades. O que se viu foi um verdadeiro racha institucional, com implicações diretas na credibilidade econômica do país, no câmbio, nos investimentos e — sobretudo — na confiança de que há algum adulto responsável na sala.

Gabriel Galípolo, presidente do Banco Central, reagiu com indignação não apenas ao conteúdo da proposta – que previa a taxação de fundos de investimento no exterior –, mas também à forma como foi pego de surpresa e, pior, como foi usado como escudo para uma medida que jamais endossou. A irritação de Galípolo, que não é pouca coisa vindo de um homem historicamente ligado ao campo político do próprio governo, é sintomática. Algo que, se fosse em um governo minimamente funcional, jamais teria ocorrido dessa forma.

O estopim do conflito? Uma fala desastrosa do secretário-executivo da Fazenda, Dario Durigan, que afirmou publicamente que Galípolo havia sido consultado previamente sobre as medidas. Uma afirmação que não só era falsa, mas colocava em xeque a independência do Banco Central e a sua credibilidade junto aos investidores. Galípolo, em conversas com políticos, jornalistas e agentes do mercado, fez questão de corrigir o curso: não apenas não foi consultado, como havia resistido a essas mesmas ideias desde o início do ano.

Sim, você leu certo: o próprio presidente do Banco Central deixou claro que foi ignorado — e ainda usaram seu nome para legitimar uma barbeiragem tributária. A medida, que previa arrecadar módicos R$ 2 bilhões (isso mesmo, uma ninharia perto do rombo das contas públicas), visava os fundos multimercado com ativos no exterior. Só que, no afã de espremer até o último centavo do setor financeiro, a proposta criava um entrave técnico que simplesmente inviabilizaria esse tipo de operação.

Para os gestores e operadores de mercado, a mensagem foi clara: o governo quer controlar capitais. E pior, sem saber direito como fazer isso, atropelando normas, instituições e até aliados. É um sintoma típico de um governo que não compreende os efeitos de suas ações econômicas, mas insiste em dobrar a aposta em medidas impopulares e ineficientes para financiar um projeto político cada vez mais disfuncional.

Galípolo, com razão, sentiu o baque. Em meio ao frenesi do mercado, sua preocupação era dupla: manter a integridade institucional do BC e preservar sua própria imagem. Afinal, não seria ele quem arcaria com o ônus de um plano que não apenas era tecnicamente mal desenhado, como simbolicamente desastroso. Nas palavras de seus interlocutores, o presidente do BC deixou claro: se Durigan não fosse desmentido, ele próprio o faria. E não é que foi mesmo?

O recuo veio rápido, na forma de um tuíte do ministro Fernando Haddad, na noite de uma quinta-feira tensa. A narrativa oficial era de que a Fazenda reviu sua posição com base em “conversas com operadores de mercado”. Uma tentativa tosca de disfarçar a realidade: a pressão de Galípolo chegou ao gabinete presidencial. E ele avisou: se insistirem com essa medida, os juros voltam a subir.

Isso mesmo: o presidente do BC ameaçou o governo com a retomada do ciclo de alta de juros caso persistissem na insanidade fiscal. É ou não é um tapa de luva?

Nos bastidores, o efeito foi devastador. A avaliação entre parlamentares e técnicos da Esplanada é de que Haddad saiu enfraquecido, e Galípolo, fortalecido. O estrago foi tamanho que até se especula que a Fazenda quer ver Galípolo pelas costas. Nada surpreendente. Um governo autoritário e centralizador, como o de Lula, não tolera dissensos — ainda mais vindos de dentro.

Haddad, por sua vez, tentou contornar o constrangimento com a habilidade de sempre: discurso vazio, números falsos e uma pose de estadista que não convence nem seus assessores mais fiéis. Na entrevista coletiva sobre o recuo, afirmou que tomou a decisão “sozinho”, apenas com seu “time”, após ouvir o mercado. Como se a opinião do Banco Central fosse um mero detalhe técnico.

Disse ainda que Sidônio Palmeira (Secom), Gleisi Hoffmann (Relações Institucionais) e Rui Costa (Casa Civil) só foram informados depois. Ora, quem acredita nisso? A reunião no Palácio do Planalto — que, segundo Haddad, era sobre outro assunto — teve todos os ingredientes de uma crise orquestrada para tentar salvar o que restava da reputação da Fazenda. Uma estratégia de contenção de danos, típica de governos que não sabem mais como justificar seus próprios erros.

O mais irônico é que não havia razão prática ou econômica para insistir na medida. Como admitiu o próprio Haddad, o efeito arrecadatório seria “residual”. Ou seja, o governo estava disposto a jogar no lixo a confiança do mercado internacional, o capital político do BC e a estabilidade cambial, tudo isso por R$ 2 bilhões. E ainda se orgulham de sua sensibilidade social…

No final das contas, a mensagem que ficou é devastadora: há um vácuo de liderança econômica no governo federal. A Fazenda age sem coordenação, atropela aliados, mente publicamente e recua sob pressão. Enquanto isso, o Banco Central — a última trincheira técnica do país — precisa recorrer ao improviso e ao vazamento de bastidores para se proteger do próprio governo.

A relação entre Fernando Haddad e Gabriel Galípolo, que já era marcada por desconfianças, agora está abertamente estremecida. E o problema vai além dos dois. Lula, que tanto prometeu estabilidade, vê seu time econômico em guerra civil. A narrativa petista de “unidade e diálogo” ruiu sob o peso da arrogância, da incompetência e da má-fé.

E o Brasil? Bom, o Brasil assiste a tudo isso de camarote, pagando a conta. Porque, enquanto os egos duelam em Brasília, a inflação corrói o poder de compra, o dólar sobe, os investimentos recuam e o país permanece estagnado. E pensar que tudo isso poderia ter sido evitado com um mínimo de profissionalismo.

Mas isso, como já sabemos, é pedir demais para um governo cuja principal preocupação é a autopreservação política e a perseguição ideológica, não a boa governança. No fundo, o episódio do IOF não é um acidente. É um sintoma. Um sintoma de que o Brasil está sendo gerido por um governo que não respeita nem os seus próprios técnicos — quanto mais a inteligência do povo brasileiro.

É por isso que, no fim, a leitura política é clara: Haddad sangra, e Galípolo sobrevive, por enquanto. Mas nenhum dos dois sai ileso. E o país, mais uma vez, afunda no pântano da instabilidade, da inépcia e da insensatez.

Com informações O Globo

Leandro Veras

Editor do Conservadores Online, é cristão, conservador e analisa os bastidores da política com visão crítica e firmeza.

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