Galípolo dá o recado: prepare-se para conviver com juros altos por um bom tempo

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Gabriel Galípolo foi indicado por Lula para suceder Roberto Campos Neto na presidência do Banco Central — Foto: Cristiano Mariz

O Brasil, esse mesmo que viveu à beira do abismo tantas vezes e milagrosamente evitou o tombo, parece estar novamente se equilibrando no fio tênue da política monetária e da desconfiança dos agentes econômicos. Nesta segunda-feira, 19 de maio de 2025, o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, deixou claro aquilo que muitos preferem não ouvir: os juros vão continuar altos por mais tempo. Isso mesmo. E não por capricho ou má vontade, mas por absoluta necessidade diante da bagunça macroeconômica patrocinada por decisões políticas duvidosas, heranças recentes e uma expectativa de inflação desancorada.

Durante um evento do Goldman Sachs em São Paulo, Galípolo não dourou a pílula. Disse, com todas as letras, que “ainda é cedo para falar em qualquer mudança na taxa básica de juros” e que o Banco Central precisará manter a Selic em nível elevado por mais tempo. Um alerta direto, um recado que, se mal interpretado, pode custar muito caro para quem insiste em viver de ilusão num país já fustigado por tantas intervenções políticas nas engrenagens da economia.

Segundo o artigo assinado por Saulo Tiossida na CNN Brasil, Gabriel Galípolo fez questão de mencionar o que muitos no mercado já sentem na pele: “Dado o que aconteceu no ano passado, dado o nível de desancoragem que a gente tem das expectativas, a gente tem consciência que desta vez nós precisamos permanecer nesta taxa de juros por mais tempo num patamar restritivo”. Em bom português, isso quer dizer que a lambança do passado recente ainda cobra seu preço, e que esse preço será pago com uma política monetária dura, desconfortável e que não cede a pressões políticas de ocasião.

A atual taxa de juros, de 14,75% ao ano, é a maior em quase duas décadas. Isso não é pouco. E quem sofre? O trabalhador comum, o pequeno empreendedor, o setor produtivo — que continua tentando respirar com dificuldade num país onde as promessas de crescimento se chocam com a realidade da inflação e da falta de previsibilidade. A retórica do governo é uma; a prática do Banco Central é outra, e é essa segunda que, felizmente, ainda impõe algum limite à irresponsabilidade fiscal e populista.

Desde setembro do ano passado, o Comitê de Política Monetária (Copom) já elevou a Selic seis vezes consecutivas, totalizando uma alta de 4,25 pontos percentuais. Um movimento forte, coordenado, e absolutamente necessário diante da deterioração das expectativas econômicas. Mesmo com o aperto, os resultados concretos ainda são tímidos. O chamado IBC-Br, uma prévia do PIB, surpreendeu com uma alta de 0,8% em março e acumula crescimento de 1,3% no trimestre. A economia, ao contrário do que se esperava, ainda demonstra dinamismo — o que, paradoxalmente, é um problema.

Sim, é isso mesmo: o dinamismo da economia, em tempos de juros altos, não é exatamente uma boa notícia. Significa que a política monetária ainda não teve o impacto desejado e que o consumo segue forte, pressionando os preços. O próprio Galípolo levantou a questão que ecoa como uma crítica velada à lógica econômica do governo: “Como você convive com a taxa de juros em um patamar que, para qualquer outro país, seria bastante restritivo? E, ainda assim, você está assistindo o nível de desemprego mais baixo da série histórica, o nível de renda mais alto da série histórica…?”. A resposta implícita é clara: algo está fora do lugar.

E está mesmo. A inflação oficial, medida pelo IPCA, acumulou 5,48% em 12 meses até março, bem acima do teto da meta de 4,5%. Isso, por si só, já justifica a permanência dos juros altos. E mesmo assim, os discursos oficiais do governo, em especial do núcleo mais ideológico, seguem pressionando por uma política monetária mais frouxa, como se a economia brasileira fosse uma ilha de prosperidade no meio de um mar de ortodoxia malvada. É o velho discurso maniqueísta: banqueiros malvados contra o povo trabalhador. Mas a realidade é bem menos romântica — e muito mais dura.

É preciso lembrar, também, que a fala de Galípolo se dá num contexto mais amplo: um país dividido politicamente, com um governo cada vez mais dependente de arranjos fisiológicos e com credibilidade fiscal em xeque. A política de gastos públicos segue tensionando a confiança dos investidores, e qualquer sinal de leniência por parte do Banco Central seria interpretado como fraqueza institucional. Felizmente, até o momento, Gabriel Galípolo tem se mostrado firme no discurso, algo louvável diante da pressão que certamente enfrenta nos bastidores.

O mercado, por sua vez, começa a ajustar as expectativas. Os juros futuros, após as falas de Galípolo e algum alívio nos Treasuries americanos, recuaram levemente. Mas isso não significa confiança plena. O que existe é cautela, e, no fundo, uma resignação com a nova realidade: o Brasil, mais uma vez, terá que conviver com juros altos por mais tempo. A má notícia é que isso inibe investimentos, encarece o crédito, freia o consumo e atrasa o crescimento. A boa notícia? Pelo menos ainda há alguém tentando evitar um desastre maior.

O compromisso reiterado por Galípolo de que “o Banco Central vai perseguir a meta de inflação, nosso mandato é esse” deveria ser o mantra diário de todos os formuladores de política econômica. Mas, infelizmente, a retórica oficial ainda se apega a narrativas populistas, como se fosse possível estimular a economia com base em aumentos artificiais de renda, distribuição de benesses e gastos públicos descontrolados. A lição da história é clara: não há atalho para a estabilidade.

E, aqui, cabe uma reflexão política inevitável. A condução econômica do atual governo — este mesmo que se esforça para minar a autonomia do Banco Central — tem sido um emaranhado de contradições. De um lado, promessas de responsabilidade fiscal; de outro, tentativas recorrentes de aumentar gastos e afrouxar regras. Enquanto isso, o Copom continua operando como uma espécie de muro de contenção — talvez o último bastião técnico da racionalidade num ambiente que flerta com o descontrole.

Gabriel Galípolo sabe disso. E, ao sinalizar com tanta firmeza a manutenção dos juros elevados, ele não está apenas falando para o mercado financeiro. Está, de maneira implícita, enviando um recado ao próprio Palácio do Planalto: ou vocês arrumam a casa fiscal, ou os juros seguirão altos, e a culpa — ainda que tentem — não poderá ser colocada exclusivamente no colo do Banco Central. É a dura matemática da responsabilidade, e ela não perdoa devaneios ideológicos.

Em meio a esse cenário, há uma lição valiosa para os conservadores — e para qualquer cidadão preocupado com o futuro do país: sem estabilidade econômica, não há soberania real, não há progresso social, não há liberdade individual duradoura. A responsabilidade fiscal não é uma agenda de banqueiros, é um imperativo moral. Gerações futuras pagarão pelas decisões de hoje. E manter a inflação sob controle é o primeiro passo para preservar a dignidade da moeda, a confiança nos contratos e a credibilidade das instituições.

Diante disso, as falas de Galípolo, como bem relatadas por Saulo Tiossida na CNN Brasil, merecem atenção, respeito e repercussão. Elas revelam que, mesmo em tempos de turbulência e incertezas políticas, ainda existem ilhas de racionalidade no comando das engrenagens econômicas do país. Que assim permaneça.

Porque se o Banco Central recuar, ceder à tentação do populismo monetário e permitir que a inflação volte a corroer o poder de compra dos brasileiros, o preço será alto demais — e quem pagará será, como sempre, o mais pobre.

Em um país onde já se paga caro por tudo, pagar mais ainda por escolhas equivocadas é um luxo que o Brasil definitivamente não pode se dar.

Leandro Veras

Editor do Conservadores Online, é cristão, conservador e analisa os bastidores da política com visão crítica e firmeza.

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