Gilmar Mendes, afirma que não há conflito de interesses em julgar casos da CBF

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Em um país onde a ética já virou peça de museu e onde o bom senso é tratado como um delírio ideológico, eis que surge mais um capítulo do enredo tragicômico brasileiro: o caso Gilmar Mendes, o IDP e a CBF. Sim, leitor do Conservadores Online, você não leu errado. Estamos falando de um ministro do Supremo Tribunal Federal — o mais alto guardião da Constituição — tendo que explicar, ou melhor, se recusando a explicar, uma ligação curiosa entre sua instituição privada e a entidade que comanda o futebol brasileiro, a CBF, essa conhecida república paralela de escândalos e bastidores obscuros.

Tudo começou quando o senador Eduardo Girão teve a audácia — sim, em tempos de toga absoluta, ousar questionar já é um ato revolucionário — de apontar um possível conflito de interesses. O motivo? Uma liminar concedida por Gilmar Mendes em janeiro de 2024 reconduziu Ednaldo Rodrigues à presidência da CBF. Pouco tempo depois, como que por mágica, a mesma CBF firmou uma parceria com o IDP (Instituto Brasiliense de Direito Público), do qual o ministro é sócio. A parceria? Cursos. Sempre eles. Cursos que, como dizem por aí, servem para muito mais que ensinar: movimentam cifras, conexões e prestígio.

Ao ser questionado, o ministro — com aquele ar sempre blasé de quem já se considera eterno — respondeu com desdém: “Não vou responder a crítica nenhuma do senador Girão. Todos conhecem ele, inclusive no Ceará”. A frase, por si só, já seria suficiente para ilustrar o que virou o Supremo Tribunal Federal: um espaço onde ministros não se dão ao trabalho de apresentar argumentos, apenas desprezo.

Mas não parou aí. Gilmar, com a autoridade de quem já viu tudo — e que talvez tenha se acostumado a jamais ser contestado — afirmou que não há conflito algum. Segundo ele, o IDP apenas aceitou uma proposta da CBF para realizar cursos, como qualquer entidade privada faria. A relação seria, nas palavras do ministro, “um contrato de direito privado” e o IDP estaria, na verdade, emprestando seu prestígio à CBF, não o contrário. Que generosidade, não?

O que ninguém explica é por que, de todas as instituições de ensino do Brasil, a escolhida foi justamente aquela da qual um ministro do STF é sócio, e logo após uma decisão favorável à mesma entidade contratante. Mas no Brasil atual, isso é detalhe. O Supremo não deve satisfações ao povo — e o povo, esse mesmo que sustenta a máquina pública, deve apenas calar-se.

Em sua defesa, Gilmar Mendes ainda explicou que o processo retornou ao Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro devido à suspeita de falsificação de assinatura em um documento. Um dos signatários — pasme — seria o Coronel Nunes, ex-dirigente da CBF, cuja família alegou que ele já não estava em condições cognitivas de assinar qualquer coisa. Uma verdadeira cena de tragicomédia: o homem, supostamente incapacitado, assinando documentos decisivos. Pior: com salário dobrado. Sim, dobraram o vencimento de todo o “colégio eleitoral”, como quem diz “assina aqui e a mágica acontece”.

E onde entra o ministro nisso? Ah, ele devolveu o caso ao TJ-RJ. Lavou as mãos. Como sempre fazem aqueles que detêm o poder, mas não querem a responsabilidade.

O jornalista Augusto Nunes, em análise publicada na revista Oeste, resumiu o escândalo com precisão cirúrgica: “A CBF é um caso de polícia. E Gilmar Mendes não vê nada de imoral ou antiético nessa parceria. Ele provavelmente nunca calçou uma chuteira, mas acha que pode decidir quem manda no futebol brasileiro”. Uma frase que, se dita em um país sério, causaria abalo institucional. Mas aqui? Causa no máximo mais um trending topic no Twitter e risadas nos bastidores.

Eis a realidade: a CBF tornou-se um palco de escândalos. Um presidente afastado volta por decisão monocrática. Um instituto ligado ao juiz que o reconduz fecha contratos com a entidade. Ninguém vê problema. A imprensa finge indignação, mas logo se cala. O povo? Já nem sabe mais quem preside a CBF. Ednaldo? Interino? Interdito? Tanto faz. O nome muda, mas o sistema permanece.

O mais grave de tudo é o silêncio institucional. Nenhuma palavra de reprovação dos colegas de toga. Nenhuma CPI aberta. Nenhuma investigação da Procuradoria-Geral da República com a urgência que se exige de casos assim. Isso porque estamos tratando de altas figuras da República. Gente que manda e desmanda. Gente que, ao invés de servir ao país, serve-se dele.

Vale lembrar que o IDP, fundado em 1998, tem sido um verdadeiro “hub” de influência em Brasília. Políticos, ministros, assessores e jornalistas frequentam seus seminários, seus cursos e seus eventos de gala. Tudo com muito “prestígio” e pouquíssima transparência. E você aí, cidadão comum, pagando imposto até no pão francês da padaria.

O mais cômico — se não fosse trágico — é que Gilmar Mendes ainda se mostrou ofendido com as acusações. Como se ser questionado fosse, em si, uma afronta. Como se apontar possíveis vínculos perigosos fosse algo indigno de atenção. Como se o Senado da República — já enfraquecido — devesse ajoelhar-se diante da toga.

Aqui, caro leitor, mora o grande perigo: quando o Judiciário se torna inalcançável, e a opinião pública impotente, o caminho para a tirania está pavimentado. A Constituição vira um pedaço de papel. Os princípios da moralidade pública, uma piada de mau gosto. E os ministros, de guardiões da legalidade, passam a senhores do destino nacional.

E se você acha que isso termina por aqui, prepare-se. A CBF, infestada de funcionários indicados por pessoas próximas ao ministro, segue funcionando como se nada tivesse acontecido. Continuam os contratos milionários, os convênios suspeitos, os escândalos abafados. Tudo normal. O Brasil que “não é para amadores” mostra-se mais uma vez como um palco onde os atores principais são sempre os mesmos, e o público é sempre feito de bobo.

O que esperar de um país em que o futebol — maior paixão nacional — é comandado por uma entidade que mais parece uma organização secreta? O que esperar de uma Justiça que se recusa a se explicar quando há evidências de conflitos gravíssimos? O que esperar de ministros que ignoram críticas legítimas de parlamentares eleitos?

Esperar, caro leitor, que a indignação não nos abandone. Que o sono não vença nossa lucidez. Que a esperança não seja sequestrada pela acomodação.

Afinal, como disse Augusto Nunes em tom certeiro: “No dia em que eu estiver ao lado de Ednaldo Rodrigues, ou estou sendo sequestrado ou o estou levando para a delegacia”. E se você sentir que o Brasil virou refém dessa turma, talvez seja hora de fazer o mesmo: levar todos esses personagens — de toga, gravata ou camisa da CBF — diretamente à luz da verdade. Nem que seja por meio do voto, da voz ou da palavra.

Porque se até o futebol está corrompido, o que mais falta para percebermos que já não há linha entre o jogo e a vergonha?

Leandro Veras

Editor do Conservadores Online, é cristão, conservador e analisa os bastidores da política com visão crítica e firmeza.

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