
A cada novo pronunciamento do ministro Gilmar Mendes, o brasileiro que ainda ousa se lembrar do que é democracia respira fundo e pergunta: até onde vai a dissimulação dos togados? A resposta parece ter sido soprada ao vento nesta terça-feira (8), quando o decano do Supremo Tribunal Federal (STF) resolveu, com seu tom habitual de superioridade acadêmica e serenidade seletiva, classificar a anistia como “a consagração da impunidade”.
Sim, você não leu errado, caro leitor do Conservadores Online. Quem agora se diz preocupado com a impunidade é o mesmo Gilmar Mendes que engavetou mais habeas corpus que muito cartório de interior autentica documento, e que já se especializou na arte de libertar os amigos do sistema — aqueles com pedigree partidário e CPF vinculado ao poder.
É claro que o texto de Guilherme Grandi, publicado pela Gazeta do Povo, foi correto, polido, técnico. Como deve ser. Mas aqui, neste espaço conservador, onde a lucidez ainda não foi silenciada por narrativas progressistas, nós não temos obrigação de fingir que não entendemos o subtexto por trás da fala do ministro.
Vamos aos fatos, com o devido sarcasmo, que é a armadura do cidadão que não se deixa enganar.
Gilmar declara que “não faz sentido algum” discutir anistia para os envolvidos nos eventos do dia 8 de janeiro de 2023 — aquele dia que a esquerda transformou em um novo 11 de Setembro, uma versão brasuca da Bastilha, com direito a cobertura sensacionalista, edição tendenciosa e uso político até a última gota. Uma data que se tornou um bilhete dourado para silenciar conservadores, prender manifestantes pacíficos e fabricar vilões sob medida.
Mas a anistia, diz o ministro, não pode acontecer. Seria um “prêmio à impunidade”. Uma afirmação que, vinda de quem veio, merece entrar nos anais da ironia jurídica. Afinal, Gilmar Mendes é aquele mesmo que, no passado, libertou José Dirceu, concedeu habeas corpus a banqueiros, e criticou a “lavajatização” da Justiça — expressão simpática para descrever seu incômodo com o combate real à corrupção.
O que ele não diz — mas que nós dizemos — é que impunidade, no Brasil, tem lado. Se você invade propriedade privada com bandeira vermelha, queima pneus, ocupa prédios públicos ou toma universidades, você é ativista. Agora, se você acampa em frente ao quartel e ora de mãos dadas pedindo intervenção constitucional, então você é terrorista. Simples assim. A toga já decidiu.
Aliás, não deixa de ser curioso como o ministro, em tom paternal, ainda concedeu uma migalha de magnanimidade ao dizer que algumas penas podem ser revistas. E deu o exemplo da cabeleireira Débora Rodrigues, que, segundo ele, assumiu um risco enorme e por isso está pagando o preço. Parece que a única profissão que tem habeas corpus automático é ser advogado com escritório na Faria Lima ou político com foro privilegiado.
Mas, claro, a cabeleireira não estava com os filhos no momento da prisão. Ah, então tá tudo certo. Porque o STF agora virou também conselheiro tutelar e juiz da moral familiar. Se não estava com os filhos, então cadeia neles. Afinal, que mãe ousa sair para um protesto? Seria aceitável se fosse contra o Bolsonaro — aí, sim, daria até entrevista no Fantástico.
Gilmar também lembra, com ar grave, que havia um plano para assassinar Lula, Alckmin e Alexandre de Moraes. Sim, esse é o novo enredo que mistura CSI com série da Globoplay. Segundo o ministro, o plano seria executado pela tal “força de elite kids pretos” — nome digno de grupo de K-pop, mas que, para o STF, representa o núcleo do mal. Engraçado como essas informações tão graves não ganharam destaque em investigações sérias, mas rendem manchetes e comentários ao gosto da casa.
Mas vamos adiante. O ministro aproveitou para negar que o STF tenha julgado com “emoção”. Imaginem só, um tribunal que prende sem audiência de custódia, sem direito a recurso, com penas desproporcionais e decisões transmitidas ao vivo para gerar cliques, sendo acusado de agir com emoção. Isso é um ultraje. O STF, claro, age com razão — desde que a razão seja política, ideológica e completamente apartada do devido processo legal.
Ele ainda fez questão de frisar que os envolvidos “assumiram riscos”. Ou seja, ao sair de casa com a camisa da Seleção, com a Bíblia na mão e indignação no coração, o cidadão assumiu o risco de ser considerado golpista por uma Corte que acredita em narrativas fabricadas pela imprensa militante. Uma narrativa que, aliás, tem nome, endereço e financiamento — mas isso ninguém investiga.
E por falar em risco, o maior deles, hoje, é ser conservador no Brasil de 2025. Um país onde os tribunais não só legislam como também interpretam o humor do réu, a intenção oculta e o contexto ideológico. Onde a anistia de 1979 — aquela que perdoou tanto a esquerda armada quanto os militares — é revisitada com gosto por quem agora se considera o dono da História.
Mas não, a anistia para conservadores não pode. Porque a “democracia” só vale quando os “cidadãos de bem” marcham para o lado certo do arco-íris. Os outros, esses têm que ser reeducados, presos, desumanizados.
Ah, leitor, e como esquecer da parte em que Gilmar diz que os mentores do golpe estão sendo responsabilizados? Como se estivéssemos diante de um episódio de “Homeland”, com milicianos digitais, blogueiros ameaçadores e aposentados perigosíssimos tramando a queda da república numa live no Facebook. É o roteiro perfeito: Bolsonaro como vilão, Moraes como herói, e o povo como massa a ser controlada.
A verdade, que não cabe nos jornais da grande mídia, é que o STF nunca teve problema com impunidade. O que ele tem problema é com desobediência ideológica. Se você for de esquerda, ou estiver do lado certo do sistema, você é vítima, é lutador, é mártir. Agora, se você ousar discordar da narrativa oficial — prepare-se para ver seu rosto estampado como “terrorista” em um inquérito sem fim.
Gilmar Mendes fala em “consagração da impunidade”, mas ignora que o Supremo hoje opera como um tribunal de exceção, onde o réu não sabe o crime, o processo é sigiloso e a pena é midiática. Onde se prende para investigar e se condena para justificar. Onde a liturgia da toga virou instrumento de intimidação.
E aqui estamos nós. Conservadores, cristãos, pais e mães de família, chamados de golpistas, enquanto corruptos confessos voltam ao poder como heróis de uma nova era. A hipocrisia não só venceu como foi condecorada com a faixa presidencial.
O que vemos hoje no Brasil não é justiça. É vingança institucionalizada, embalada em discursos sobre Estado Democrático de Direito, enquanto se pisoteia o devido processo legal. É a construção de uma narrativa onde o único objetivo é calar a voz da oposição, destruir reputações e garantir que jamais se repita o fenômeno de 2018 — aquele que tirou a esquerda do poder pela via democrática.
Gilmar Mendes, como tantos outros, se tornou símbolo de um tempo onde a toga deixou de ser neutra e passou a vestir cores — sempre as mesmas. Um tempo em que ministros não julgam com base em leis, mas com base em editoriais do jornal do dia.
O que fazer? Resistir. Não com vandalismo, não com violência — mas com lucidez, coragem e, acima de tudo, fé. Fé no Deus que tudo vê, e que julgará com justiça o que os homens tentam esconder sob a toga da hipocrisia.
Enquanto isso, continuamos escrevendo. Denunciando. Gritando. Porque cada vez que alguém como Gilmar Mendes fala em “impunidade”, nós lembramos do quanto a palavra perdeu o sentido na boca de quem só conhece a justiça quando ela serve aos seus.
Se a anistia é a consagração da impunidade, o que dizer do silêncio cúmplice diante da corrupção petista? O que dizer dos habeas corpus seletivos? Dos acordos de delação ignorados? Das audiências que nunca acontecem? Dos inquéritos eternos?
Ironia das ironias, é nesse Brasil de Gilmar Mendes que ainda tentam nos ensinar o que é democracia.
Com informações Gazeta do Povo