
Olha só, mais uma vez o ministro Gilmar Mendes, aquele eterno defensor do que convém ao momento, surge como porta-voz de uma narrativa que beira o surreal. Ele quer te convencer de que a crescente insatisfação internacional com a censura no Brasil, em especial vinda dos Estados Unidos e de ninguém menos que Elon Musk, é apenas um exagero. Ora, como se fosse possível minimizar o fato de que o Brasil se tornou referência negativa quando o assunto é supressão de liberdade de expressão.
Para Gilmar Mendes, não há qualquer problema em o Supremo Tribunal Federal agir como uma espécie de oráculo supremo da moralidade digital, regulando o que pode ou não ser dito nas redes sociais. Ele compara essa situação com crises diplomáticas irrelevantes, como se a ofensiva republicana contra Alexandre de Moraes fosse algo tão banal quanto um imbróglio sobre dentistas em Portugal nos anos 90. De fato, uma comparação digna de quem tenta fugir da realidade a qualquer custo.
E para tornar tudo ainda mais absurdo, Gilmar vem com a velha tática de fingir que tudo está bem e que as relações diplomáticas seguem inabaláveis. Ele quer te convencer de que a volta de Donald Trump à presidência dos EUA não mudará nada. Ah, claro! Como se Trump, um dos maiores defensores da liberdade de expressão, fosse ignorar a atuação censora de um ministro do STF que se comporta como um xerife digital.
Mas o momento mais cômico da entrevista é quando Gilmar Mendes desdenha do projeto aprovado em um comitê da Câmara dos EUA que pode barrar Alexandre de Moraes de pisar em solo americano. O ministro, em sua bolha, tenta minimizar a situação, fingindo que o avanço desse projeto não passa de um detalhe sem importância. Como se fosse comum para um país democrático ver seus magistrados sendo mencionados em projetos de veto internacional por violarem direitos fundamentais.
Enquanto Gilmar Mendes tenta jogar panos quentes na situação, seus colegas do STF seguem na mesma toada. Alexandre de Moraes solta frases de efeito sobre a soberania brasileira, tentando pintar-se como um herói da República, quando na verdade se tornou o maior símbolo do autoritarismo judicial. Luís Roberto Barroso, por sua vez, resgata a velha narrativa do “golpe de Estado” que nunca aconteceu, em uma tentativa desesperada de justificar a centralização absoluta do poder no STF.
E, claro, Flávio Dino não poderia ficar de fora desse teatro. O agora ministro do STF e ex-governador do Maranhão faz questão de soltar suas costumeiras ironias nas redes sociais, como se estivesse em um concurso de frases espirituosas. Segundo ele, se Moraes não puder ir para os EUA, pode muito bem passar férias em Carolina, no Maranhão. Ah, sim! Porque a questão central aqui não é a crescente censura imposta pelo judiciário brasileiro, mas sim onde o ministro passará suas férias. Parece piada, mas é a realidade de um país onde ministros da Suprema Corte se preocupam mais em criar narrativas do que em garantir direitos fundamentais.
O ponto alto de toda essa hipocrisia é que a censura no Brasil está sendo denunciada por figuras de peso, incluindo Elon Musk, um dos homens mais influentes do planeta. Se antes a perseguição a jornalistas, empresários e usuários de redes sociais era algo tratado com silêncio absoluto pela grande mídia, agora se tornou um problema internacional. O mundo percebeu o que está acontecendo por aqui, e a resposta tem sido dura. Mas, para Gilmar Mendes, tudo não passa de um grande exagero.
A verdade é que o STF se acostumou a um cenário onde pode fazer o que quiser sem qualquer consequência. Mas agora a coisa mudou. Os olhos do mundo estão sobre o Brasil, e as tentativas de relativizar os abusos não enganam mais ninguém. O que Gilmar Mendes chama de “maximização” nada mais é do que o eco das vozes que ele e seus colegas tentaram calar. E quanto mais tentarem fingir que nada está acontecendo, mais evidente fica a farsa.
Com informações Folha de S.Paulo