
Prepare-se, amigo leitor do Conservadores Online, para mais um capítulo da nossa tragicomédia jurídica brasileira, transmitida diretamente de Lisboa, com direito a taça de vinho do Porto e muita cara de pau. Sim, estamos falando do já famoso e constrangedor Gilmarpalooza, aquele evento anual que mais parece um festival de vaidades togadas, regado a networking gourmet entre ministros do Supremo, CEOs de empresas com ações no próprio STF e advogados que, curiosamente, vivem de… bem, de influenciar ministros do Supremo.
E, claro, como poderia faltar aquele toque de cinismo institucional? Segundo o brilhante artigo publicado pelo jornalista Weslley Galzo, do Estadão, a organização do evento, liderada pelo eterno decano do STF, Gilmar Mendes, garantiu que tudo não passa de um “fórum plural e independente”. Ah, claro… Independente… igualzinho à cobertura da imprensa militante quando o réu é alguém da esquerda.
Seis ministros do STF confirmaram presença: Barroso, Alexandre de Moraes, André Mendonça, Dias Toffoli, Flávio Dino (o novo queridinho da toga progressista) e o próprio anfitrião, Gilmar Mendes. Uma turma que, nos últimos anos, parece ter feito um curso intensivo de “Como ignorar o princípio da imparcialidade sem corar de vergonha”.
E quem mais estará no palco do Gilmarpalooza? Nada menos que o alto escalão do BTG Pactual, aquele banco que, por pura coincidência, tem processos tramitando no STF. Mas calma, segundo a organização, os executivos estão lá “somente como palestrantes” e por serem “referências técnicas”. Referência em quê? Lobby? Relações institucionais de altíssimo nível?
O BTG mandará para Lisboa três nomes de peso: Bruna Marengoni (sócia), Bruno Duque (diretor jurídico) e o sempre polêmico André Esteves, que já foi preso por ordem de ministro do STF e, num passe de mágica togada, viu o processo ser arquivado “por falta de provas”. Ah, as voltas que o destino dá quando o foro é especial e a conta bancária é generosa…
Para quem ainda tinha dúvida sobre a promiscuidade entre os mundos jurídico e financeiro no Brasil, o Gilmarpalooza é praticamente um reality show de como construir amizades sinceras entre julgadores e partes interessadas. A justificativa oficial? Networking. Discussões técnicas. Temas de interesse público. Alguém acredita mesmo nisso?
É claro que o BTG faz questão de deixar claro que não é patrocinador do evento. Apenas banca as despesas dos seus executivos para que possam, com toda a neutralidade do mundo, palestrar para os mesmos ministros que julgam causas de seu interesse. A esquerda gritaria por anos se Bolsonaro tivesse promovido algo assim no Palácio do Planalto… mas como é Gilmar, tudo vira “debate democrático”…
E os demais convidados? Nada menos que Light, Eletrobras e Yduqs, todas com processos ativos no STF. O CEO da Light, por exemplo, estará lá, mesmo com a empresa sendo parte de três recursos extraordinários na Suprema Corte. Um deles, pasmem, estava nas mãos de Barroso e agora foi para Mendonça, ambos devidamente escalados para o passeio a Lisboa.
Já a Eletrobras, aquela gigante cuja privatização a esquerda finge odiar mas adora negociar nos bastidores, também terá representante em solo português. O motivo da ação? Um processo milionário que envolve o Estado de Alagoas, a União e, claro, a própria Eletrobras. O que é um milhão de reais de causa quando se pode tomar um vinho ao lado de ministros do STF?
E a Yduqs, do setor de educação privada? Levará sua vice-presidente, Cláudia Romano, para representar tanto a empresa quanto o Sindicato das Entidades Mantenedoras do Estado do Rio de Janeiro. Só um detalhe: a Estácio, uma das instituições controladas pela Yduqs, responde a 12 processos no STF, todos nas mãos de ministros participantes do evento. Coincidência? Só se for no dicionário ideológico da extrema-imprensa militante.
Agora, vamos ao momento preferido da militância progressista: o ataque preventivo ao contraditório. Como de costume, qualquer um que ouse levantar questionamentos sobre a ética dessa relação promíscua será prontamente rotulado de “bolsonarista radical”, “golpista” ou “antidemocrático”. Afinal, se Gilmar Mendes diz que é normal, quem somos nós, pobres mortais pagadores de impostos, para discordar?
Juristas independentes até tentaram levantar a bola da imparcialidade e do “conflito de interesses”, mas, convenhamos, os aplausos da bolha jurídica progressista abafaram qualquer crítica. Se fosse um evento patrocinado por empresários apoiadores de Bolsonaro, já teríamos manchetes em letras garrafais denunciando “captura institucional”, “abalo à democracia” e “risco de fascismo togado”.
Mas como o enredo é outro e os protagonistas são os “salvadores da democracia”, tudo vira apenas mais um capítulo da festa da hipocrisia institucional brasileira.
É importante frisar, claro, que o BTG jura de pés juntos que não vê problema algum na participação de seus executivos. Que são convidados por serem referência técnica (porque, aparentemente, o Brasil tem um déficit de especialistas fora das partes processuais envolvidas no STF). Que bancam suas próprias despesas. Que não há contrapartidas. Que tudo é pelo bem do Brasil. Sim, claro… E o Papai Noel virá de trenó para a próxima sessão do Supremo.
E não vamos esquecer a cereja do bolo: o “happy hour” promovido pelo BTG no ano passado, no luxuoso SUD Lisboa, reservado exclusivamente para autoridades do Judiciário e Legislativo. Um “coquetel privado” fora da agenda oficial, para garantir aquele contato mais íntimo, longe das câmeras e dos olhos inconvenientes da população brasileira. Ah, como a democracia agradece por esses momentos de privacidade institucional…
No fundo, o Gilmarpalooza é o retrato fiel do que virou o Brasil sob a hegemonia da toga progressista: um país onde ministros de um poder que deveria ser o mais imparcial da República podem, sem nenhum pudor, confraternizar com partes interessadas nos próprios processos que eles julgam. Onde empresas com milhões (ou bilhões) em jogo no STF se sentem absolutamente confortáveis em bancar passagens, estadias e happy hours de seus executivos para estarem lado a lado com os juízes de seus destinos. E onde a imprensa, aquela mesma que passa o dia gritando contra a “ameaça à democracia”, resolve colocar panos quentes, quando os protagonistas vestem toga e discursam em nome da “defesa das instituições”.
É, caro leitor, enquanto você aí rala para pagar as contas, o Supremo faz turismo institucional com dinheiro privado de partes interessadas, tudo com a bênção dos guardiões da democracia e a omissão cúmplice da extrema imprensa.
Mas não se preocupe. Logo, logo, algum colunista do Estadão, da Folha ou da GloboNews vai escrever que tudo isso é “normal”, “republicano” e “fundamental para o fortalecimento das instituições”. E o povo? Bom… o povo continua apenas assistindo de longe, pagando a conta e sendo chamado de “antidemocrático” por ousar questionar.
Com informações Estadão