
Ah, o governo federal, sempre tão ciente da nossa fome e da nossa carência de um bom prato de arroz com feijão. Ou, melhor dizendo, sempre tão ciente da nossa incapacidade de lidar com a inflação que, em sua grande sabedoria, decidiu avaliar a possibilidade de zerar o imposto de importação do trigo. Claro, porque nada diz “resposta imediata” como uma medida que, no fim das contas, pode não fazer nem cócegas no preço do produto. Mas, como sempre, não podemos deixar de admirar a persistência do governo em tentar dar a impressão de que algo está sendo feito. Afinal, ficar parado é um luxo que, aparentemente, nem o Brasil pode se permitir.
O artigo da Folha de S.Paulo até tenta disfarçar, falando sobre o “efeito prático” da medida e insinuando que pode haver uma queda no preço do trigo e do óleo comestível. Sim, porque, como todos sabem, tirar um imposto de 9% vai, de repente, mudar toda a realidade do mercado. Mas, espere, não vá pensando que é só isso que o governo está fazendo. Não! Há todo um esforço para ajustar a narrativa, mesmo que o impacto real disso seja como tentar resolver o aquecimento global com um ventilador.
O primeiro ponto que é imperativo entender é que o Brasil, como sempre, não consegue se livrar de sua dependência do mercado externo. No caso do trigo, o Brasil é um consumidor ávido do produto internacional. Não estamos falando de uma nação autossuficiente, como o governo tenta fazer parecer, mas de um país que importa 6,6 milhões de toneladas de trigo, o que representa um aumento de 59% em relação ao ano anterior. Para os que têm memória curta (ou preferem ignorar os fatos), isso é uma clara evidência de que, por mais que se retire o imposto de importação, o país ainda depende fortemente do mercado global para garantir seu estoque de alimentos básicos. E, claro, o governo finge que essa medida pode alterar a inflação dos alimentos de forma significativa. Bom, se isso fosse verdade, talvez as coisas não estivessem como estão.

Agora, o que realmente parece ser o grande golpe de marketing do governo é a ideia de que a isenção do imposto seria uma “sinalização política”. Como se isso fosse um gesto revolucionário, uma virada de jogo. “Olhem para nós, estamos fazendo algo!”, é o que parece ser a mensagem subjacente. O problema é que, enquanto isso, o Brasil já conta com uma cota de trigo isenta de impostos, garantida pela Organização Mundial do Comércio (OMC). Mas não vamos nos perder em detalhes técnicos, não é? A narrativa é clara: estamos fazendo algo para tentar reduzir o preço, mesmo que, no fundo, a medida não resolva absolutamente nada.
Claro, também há a questão do óleo comestível. O Brasil, como sempre, tenta se posicionar como um grande produtor e exportador de óleos vegetais, mas a verdade é que as importações continuam sendo necessárias. Apesar de sermos um dos maiores produtores de óleo de soja, o país ainda depende de importações pontuais para suprir as oscilações na produção interna. Então, quando o governo fala sobre zerar o imposto de importação do óleo vegetal, é como se estivesse vendendo uma grande solução para o público, quando na realidade o impacto disso é ínfimo. O preço do óleo no exterior pode estar mais barato, mas, sejamos honestos, isso não vai resolver a questão estrutural de preços no Brasil. A ideia de zerar o imposto é apenas mais uma tentativa de fazer algo parecer mais grandioso do que realmente é.
E, claro, a cereja do bolo: a discussão sobre a taxação das exportações do agronegócio. Este é o ponto onde o governo realmente atira no próprio pé. A ideia, de acordo com alguns ministros, seria criar uma taxa para forçar os produtores a se voltarem para o mercado interno, com o objetivo de aumentar a oferta de alimentos e, assim, pressionar menos os preços. Claro, nada poderia ser mais “inteligente” do que essa ideia. Afinal, é totalmente lógico taxar as exportações de produtos que são o pilar do agronegócio brasileiro, criando um impasse político e comercial com os próprios produtores. Se isso não é uma receita para o caos, não sei o que é.
O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, já se posicionou contra essa medida, o que é uma decisão acertada, considerando o potencial de revolta do setor. E acredite, Fávaro não é o único que vê o desastre que isso poderia representar. Ministros como Rui Costa, da Casa Civil, e Paulo Teixeira, do Desenvolvimento Agrário, até defendem a ideia, mas a oposição de Fávaro e Fernando Haddad (da Fazenda) reflete o tamanho da confusão que isso poderia gerar. Afinal, taxar as exportações não só criaria uma guerra política interna, mas também colocaria o Brasil em uma posição extremamente vulnerável nas relações comerciais internacionais.
Esse tipo de proposta, como sempre, acaba sendo uma faca de dois gumes. Por um lado, seria uma tentativa de agradar à base interna, forçando uma maior oferta de alimentos no mercado. Por outro, a medida acabaria destruindo a competitividade do setor agropecuário brasileiro no mercado global, resultando em uma maior retração nas exportações e um aumento de custos para todos. No fim, o governo tenta vender uma imagem de ação e de preocupação com o bem-estar da população, mas a verdade é que não existe um plano realista para resolver a questão da inflação de alimentos.
E, como se isso não fosse o suficiente, ainda temos que lidar com as repetidas tentativas de implementar soluções mágicas que não funcionam. Zerar impostos por si só não vai resolver o problema da inflação, da escassez de produtos e da dependência do mercado externo. Essas medidas pontuais são apenas uma forma de enganar a população e tentar vender uma falsa sensação de que “algo está sendo feito”. No entanto, o que o Brasil realmente precisa é de uma reforma estruturante na economia, que leve em conta os reais problemas do país, como a burocracia excessiva, a falta de investimentos em infraestrutura e o crescimento descontrolado da dívida pública.
Infelizmente, o governo parece mais interessado em criar ilusões de que está agindo do que em realmente enfrentar os desafios econômicos do país. A solução para os problemas do Brasil não está em mexer com os impostos de importação ou em taxar as exportações. Ela está em tomar decisões impopulares, mas necessárias, para melhorar a competitividade do país, reduzir a carga tributária e promover um ambiente de negócios mais saudável e sustentável.
Em suma, o governo de Lula continua sua busca desesperada por soluções rápidas, como um remédio sem efeito, para problemas complexos. Está mais interessado em parecer estar fazendo algo do que em realmente resolver os problemas estruturais que afligem a população. E, como sempre, as medidas mais visíveis são as que têm o menor impacto real. Isso é política brasileira em sua forma mais pura: muita ação, pouca solução.
Com informações Folha de S.Paulo