
Sim, brasileiro, é você mesmo. Acorda. Pode levantar da rede, jogar água no rosto e dar uma olhada ao redor. Porque enquanto você encara mais um boleto vencido, o governo federal – aquele que jurou que traria progresso, justiça social e um paraíso multicolorido com unicórnios de inclusão – continua confortavelmente deitado em seu berço esplêndido, embalado pelo sono profundo da inoperância política, da gastança sem freio e da boa e velha arrogância ideológica.
Mas calma, não vá ainda se indignar. Antes de qualquer coisa, a gente precisa respeitar o sono do nosso querido governo. Afinal, governar o Brasil é tarefa difícil, cansativa, exige responsabilidade, articulação, conhecimento técnico e, claro, vontade de trabalhar. Coisa rara ultimamente.
Agora, vamos ser justos: nem todo mundo está dormindo. Enquanto o povo brasileiro rala no transporte público e vê a gasolina subir como foguete da SpaceX, tem juiz embolsando mais de R$ 1 milhão por mês, servidor público aposentado recebendo salário de executivo de multinacional e ministros se divertindo com o “Orçamento Secreto 2.0” disfarçado de “emenda do relator”. Então não, eles não estão dormindo. Estão sonhando acordados com um país onde só eles prosperam – à custa de quem? De você, é claro.
Aliás, se você estava esperando alguma reforma relevante, uma ação coordenada de desburocratização, abertura comercial, cortes de gastos ou incentivo à produtividade, pode ir tirando o cavalinho da chuva. Esse Lula 3, aquele que se apresenta como o grande maestro da inclusão, está mais preocupado em reviver a década de 2000 no ritmo da nostalgia sindicalista do que em enfrentar os verdadeiros desafios econômicos e institucionais do país.
Ah, mas a gente ouviu falar que teve reforma tributária, né? Sim, claro, depois de 40 anos, aprovaram uma reforma que, sejamos francos, foi aprovada porque já estava pronta, digerida, mastigada, faltava só engolir. Não teve dor, não teve custo político – só uma pequena digestão para fingir que estão fazendo algo. É aquela velha tática de passar maquiagem no defunto e colocar um sorriso na boca: continua morto, mas agora está apresentável.
Enquanto isso, as reformas verdadeiramente dolorosas – como cortar gastos públicos, eliminar privilégios, abrir a economia e reduzir o poder dos sindicatos aparelhados – continuam trancadas a sete chaves num cofre enterrado no fundo da Praça dos Três Poderes. E sabe por quê? Porque esse tipo de medida dói. Dói no bolso da elite política, dos funcionários públicos de alto escalão, dos parasitas do Estado. E, claro, ninguém quer ser o vilão da novela das seis.
Afinal, num país em que o governo prefere aumentar os gastos já no primeiro ano, alegando medo de que a oposição “fascista” retome o poder, não há como esperar grande coisa. A prioridade não é reformar. A prioridade é se manter no poder, distribuir benesses, agradar aliados e, de preferência, calar a boca da imprensa com publicidade institucional. O povo que espere. O Brasil que aguente.
Aliás, que narrativa mais confortável essa do “risco fascista”, não? Um espantalho conveniente para justificar tudo: do aumento do déficit à paralisia institucional. “Ah, não podemos apertar os cintos agora, porque o Bolsonaro pode voltar.” Como se o retorno do ex-presidente dependesse da qualidade do gasto público e não do próprio desempenho catastrófico de um governo que parece mais uma sessão de terapia coletiva de progressistas traumatizados.
Enquanto isso, a polarização vai servindo como anestésico. A direita aponta o dedo, a esquerda grita “golpista”, e o brasileiro vai vivendo num eterno carnaval fora de época onde todos dançam, menos quem trabalha. Porque no fim das contas, governar virou secundário. O negócio é narrar.
Quer saber a verdade? O Brasil não é ingovernável. O sistema político não é um labirinto indecifrável. O que falta é coragem para encarar os interesses instalados. O que falta é liderança de verdade. Mas, claro, é mais fácil governar por PowerPoint, enquanto se vive de nostalgia e se espera que algum milagre natural – tipo um novo boom das commodities – resolva todos os nossos problemas como num passe de mágica.
Até porque a mágica, aqui, é transformar um governo inoperante em herói da democracia. E olha que isso eles estão conseguindo fazer muito bem. Com ajuda da imprensa, dos “especialistas” da bolha acadêmica e, principalmente, da apatia generalizada da sociedade, que aprendeu a rir de sua própria tragédia.
Não acredita? Veja só: há décadas se repete que o problema do Brasil é o tamanho do Estado, o excesso de empresas públicas, a ineficiência estrutural e a ausência de incentivos para a produtividade. Todo economista sério sabe disso. Todo empresário sente isso na pele. Mas adivinhe: nada é feito. Por quê? Porque isso implicaria desagradar corporações organizadas, sindicatos barulhentos, servidores públicos privilegiados e até mesmo ONGs encostadas que vivem à sombra da viúva.
E nem vamos entrar no mérito da educação pública, onde a maioria dos jovens pobres estuda em escolas precárias, enquanto as universidades federais de excelência são dominadas por filhos da elite progressista. Quer justiça social? Comece invertendo essa lógica. Mas isso, claro, não dá voto. Melhor prometer passe livre, distribuir bolsas e manter o povo na eterna dependência do Estado.
Tudo isso, claro, embalado no discurso bonito de “inclusão” e “justiça social”, os dois termos mais prostituídos da política brasileira. Porque de justiça mesmo, o que se vê é um judiciário inchado, caro, lento, e com um apetite por privilégios que faria qualquer monarca absolutista parecer franciscano.
E o povo? Ah, o povo continua acreditando. Continua esperando. Continua votando em salvadores da pátria que prometem tudo e não entregam nada. Porque, no fundo, a esperança é a última que morre – mas no Brasil, ela já está em coma induzido na UTI da ingenuidade coletiva.
Portanto, querido leitor, se você ainda tinha dúvidas, fique tranquilo: o governo está, sim, deitado em berço esplêndido. Mas não se preocupe: ele acorda de vez em quando. Só para garantir mais um aumento de salário, aprovar um fundo eleitoral bilionário ou arrumar uma nova forma de se perpetuar no poder. Depois disso, volta a dormir tranquilo, embalado pelo ronco das instituições.
Enquanto isso, resta a você acordar. Porque se depender de quem governa, este país continuará dormindo profundamente no berço da mediocridade, embalado pela melodia suave do populismo, do assistencialismo barato e da eterna covardia política.
Mas olha o lado bom: pelo menos, enquanto o governo dorme, ele não atrapalha ainda mais, né? Bem-vindo ao Brasil real, onde o sonho é sempre adiado, e quem trabalha é que paga a conta da soneca coletiva.