
Era abril de 2019 quando Jair Bolsonaro, recém-empossado presidente do Brasil, embarcou para uma das viagens internacionais mais simbólicas e politicamente ousadas de seu governo: sua visita oficial a Israel. Uma viagem que, para muitos, foi uma guinada na política externa brasileira e, para outros, um ato de coragem em romper com décadas de alinhamento passivo e diplomacia “isentona”. A ida de Bolsonaro a Jerusalém não foi apenas uma visita de Estado, foi um recado claro ao mundo de que o Brasil estava, sim, escolhendo lado.
Logo na chegada ao aeroporto, o presidente israelense Benjamin Netanyahu que, à época, enfrentava uma eleição decisiva, fez questão de receber pessoalmente Bolsonaro. Um gesto que, para os mais atentos aos rituais diplomáticos, sinalizava mais do que cortesia: era um aceno de que Israel via naquele presidente brasileiro um aliado estratégico. O abraço entre os dois foi quase uma declaração pública de parceria. Era o início de uma agenda carregada de simbolismo, com gestos que mexeriam com os nervos de toda a comunidade diplomática internacional.
Na segunda-feira, veio o momento que entraria para os livros de história: a visita ao Muro das Lamentações, o lugar mais sagrado do judaísmo, localizado em Jerusalém Oriental, uma região cujo status político permanece um dos pontos mais sensíveis no conflito israelo-palestino. O detalhe que gerou furor nos corredores da diplomacia internacional foi o fato de Bolsonaro ter ido ao local acompanhado de Netanyahu. Segundo reportagem da BBC News Brasil, líderes internacionais costumam visitar o Muro em caráter pessoal, justamente para evitar qualquer leitura de apoio tácito à soberania israelense sobre Jerusalém Oriental. Mas Bolsonaro foi além. Fez questão de estar ao lado do premiê israelense. O que era pessoal virou oficial. O que era protocolar virou posicionamento político.
Enquanto as câmeras do mundo registravam aquele momento, do outro lado, em Brasília e nas capitais árabes, as reações começaram a borbulhar. Para setores do agronegócio brasileiro, grandes exportadores para o mundo islâmico, o sinal era de alerta. O Brasil, maior exportador global de carne halal, estava mexendo com um mercado bilionário, cuja sensibilidade à questão de Jerusalém é histórica e profunda. Dados da BBC News Brasil apontam que, em 2018, as exportações brasileiras para países de maioria islâmica somaram quase 23 bilhões de dólares. Era um risco que Bolsonaro parecia disposto a correr.
E não foi só o agronegócio que acendeu as luzes vermelhas. Dentro do próprio governo brasileiro, a ala militar e o Itamaraty aconselharam prudência. Mas, como era de se esperar de um presidente que se elegeu justamente para romper com o “establishment”, Bolsonaro seguiu adiante. No entanto, não entregou tudo de uma vez. Em vez de anunciar a tão prometida transferência da embaixada brasileira de Tel Aviv para Jerusalém, ele preferiu um meio-termo: a abertura de um escritório de negócios em Jerusalém. Uma solução diplomática “light”? Talvez. Mas suficiente para desagradar os palestinos, como destacou o Ministério das Relações Exteriores da Palestina, que chamou a decisão de “uma violação flagrante da legitimidade internacional”, segundo informações da BBC News Brasil.
Enquanto os críticos, principalmente da esquerda brasileira e da comunidade internacional, batiam duro, Bolsonaro recebia o carinho da comunidade evangélica brasileira. Para esse grupo, majoritariamente pró-Israel por razões teológicas, o simples fato de um presidente brasileiro estar orando no Muro das Lamentações, de mãos dadas com Netanyahu, era motivo de festa. Pastores influentes, como Silas Malafaia, não esconderam a satisfação. A base cristã conservadora, tão decisiva na eleição de Bolsonaro, teve naquele momento uma de suas maiores vitórias simbólicas.
Mas a visita não se limitou a gestos religiosos e simbólicos. Houve uma agenda robusta de acordos bilaterais. Segundo o Itamaraty, foram firmados instrumentos de cooperação nas áreas de ciência e tecnologia, defesa, segurança cibernética, saúde, e até em aviação civil. A promessa era clara: mais tecnologia israelense no Brasil e mais negócios entre os dois países. O presidente fez questão de lembrar o papel histórico do Brasil na criação do Estado de Israel, exaltando a figura de Oswaldo Aranha, o diplomata brasileiro que presidiu a sessão da ONU em 1947 que aprovou a partilha da Palestina.
Para os entusiastas da nova política externa, era um realinhamento necessário. O Brasil, finalmente, se afastava da postura ambígua que durante anos tentou agradar tanto árabes quanto israelenses, sem assumir uma posição clara. O governo Bolsonaro queria deixar claro: o Brasil estava ao lado de Israel, ao lado dos Estados Unidos, ao lado do Ocidente. Uma mensagem que ecoava não só em Jerusalém, mas também em Washington, especialmente entre os apoiadores de Donald Trump, outro grande incentivador da mudança da embaixada americana para Jerusalém.
No entanto, como sempre na política, toda ação tem sua reação. A comunidade internacional, liderada pela União Europeia e por órgãos da ONU, observava com preocupação. A BBC News Brasil, em sua cobertura, destacou as críticas da professora Arlene Clemesha, da USP, que alertou para o risco de o Brasil se isolar diplomaticamente. Segundo ela, ao romper com a neutralidade histórica no conflito entre israelenses e palestinos, o Brasil colocava em risco não só seu comércio exterior, mas também seu papel como interlocutor respeitado no cenário internacional.
Mas para Bolsonaro e seus apoiadores, o recado era outro. O presidente brasileiro deixou claro, durante a coletiva em Jerusalém, que ainda havia a intenção de concluir a transferência da embaixada até o fim de seu mandato. Era uma promessa que ficava em aberto, como uma espada de Dâmocles pendendo sobre os diplomatas brasileiros.
Outro momento que marcou a visita foi a condecoração de militares israelenses que participaram das operações de resgate na tragédia de Brumadinho, em Minas Gerais. Um gesto de gratidão que humanizou ainda mais a relação entre os dois países e que foi amplamente divulgado pelas redes sociais do governo.
O impacto dessa viagem ainda ecoaria nos anos seguintes. A base evangélica comemorou. O agronegócio torceu o nariz. A esquerda chiou. Os palestinos protestaram. Mas, gostem ou não, Bolsonaro fez história. Não houve meio-termo, não houve muro de contenção diplomática. Houve, sim, um gesto claro, direto, como é do estilo bolsonarista: escolher um lado. E o lado escolhido foi Israel.
Para muitos conservadores, aquela visita de abril de 2019 foi o marco de uma nova era nas relações exteriores brasileiras. Uma era em que o Brasil deixou de ser apenas mais um na sala e passou a falar mais alto, mesmo que isso custasse algumas inimizades comerciais ou desconfortos diplomáticos. Porque, no fim das contas, como o próprio Bolsonaro diria depois: “Ser isento é ser cúmplice”.
E o que temos hoje?
A política externa brasileira, que já teve dias de glória com o respeito das grandes potências e um histórico de equilíbrio diplomático, hoje desfila por um caminho tortuoso de contradições e alinhamentos vergonhosos. E a prova mais visual e simbólica desse desvio? A foto de Lula, sorridente e confortável ao lado do então presidente iraniano, Ebrahim Raisi, durante a cúpula dos Brics em 2023. Uma imagem que, para quem compreende minimamente o peso geopolítico dos atos simbólicos, dispensa maiores legendas. Mas aqui estamos, justamente para relembrar e dar o devido contexto àquilo que muitos brasileiros preferem esquecer… ou fingem que não viram.

Naquele momento, o mundo já conhecia de cor o histórico do regime iraniano: um governo teocrático que persegue opositores, silencia jornalistas, prende mulheres por tirarem o véu, enforca homossexuais e financia grupos terroristas como o Hamas e o Hezbollah, responsáveis por espalhar sangue e medo em solo israelense e em outras partes do mundo. Mesmo assim, o presidente brasileiro fez questão de posar ao lado de Raisi, como se estivesse ao lado de um líder democrático qualquer. O que para alguns é apenas um gesto de “diplomacia multilateral”, para os mais atentos, é mais um capítulo da longa história de cumplicidade ideológica entre o petismo e os regimes mais autoritários do planeta.
Enquanto democracias de verdade — Estados Unidos, Israel, Alemanha, Canadá, Reino Unido — reforçavam seus embargos, suas sanções e o isolamento político contra Teerã, o Brasil de Lula fazia o movimento inverso: estendia o tapete vermelho para os representantes da repressão, do ódio e do terrorismo. E isso não é exagero retórico. Em fevereiro de 2023, por exemplo, o governo brasileiro autorizou a atracação de navios de guerra iranianos no Rio de Janeiro, desrespeitando alertas públicos feitos pela própria embaixadora dos Estados Unidos em Brasília, que deixou claro que aqueles navios já tinham servido a missões de apoio ao terrorismo.
E você, cidadão brasileiro, trabalhador, pagador de impostos, que ainda crê na Constituição, nos direitos humanos e no princípio do repúdio ao terrorismo (todos listados no artigo 4.º da nossa Carta Magna), deve se perguntar: qual o interesse do governo brasileiro em manter tamanha proximidade com um regime que simboliza justamente o oposto desses valores? A resposta é simples e, ao mesmo tempo, vergonhosa: ideologia, antiamericanismo barato e o velho desejo de transformar o Brasil num soldado fiel daquilo que a esquerda chama de “Sul Global”, um conceito geopolítico que, na prática, só serviu para isolar ainda mais o Brasil das grandes decisões do mundo civilizado.
A inclusão do Irã nos Brics, por exemplo, não foi obra do acaso. Foi resultado de um esforço diplomático liderado pelo governo petista, com o aval direto de Lula e a articulação estratégica de Celso Amorim, o verdadeiro cérebro por trás da política externa lulista. E o que isso significou na prática? O Brasil ajudou a legitimar internacionalmente um regime que financia terroristas e que trabalha diuturnamente para obter capacidade nuclear militar, ameaçando diretamente a estabilidade do Oriente Médio. Tudo isso enquanto o mundo inteiro — inclusive nações que historicamente buscam a neutralidade — se esforçava para isolar o Irã.
E o padrão de comportamento não parou por aí. Em outubro de 2024, quando o Irã lançou quase 200 mísseis contra o território de Israel, o mundo reagiu com indignação, emitindo notas oficiais de condenação, chamando o ato pelo que ele realmente foi: uma agressão covarde e desproporcional. E o Brasil? Ah, o Brasil preferiu “acompanhar com preocupação”, como descreveu a BBC News Brasil, numa crítica discreta, mas evidente, ao duplo padrão do Itamaraty. Uma resposta tímida, sem qualquer tom de indignação, sem a força moral que o momento exigia. A mesma diplomacia que sempre sobe o tom contra Israel, mesmo quando o Estado judeu age claramente em legítima defesa, escolheu a covardia política quando teve que se posicionar contra o regime iraniano.
Esse duplo padrão, aliás, não é novo. Desde o fatídico ataque terrorista do Hamas em 7 de outubro de 2023, quando civis inocentes foram massacrados de maneira brutal, o governo brasileiro demorou dias para sequer usar a palavra “terrorismo” em seus comunicados oficiais. Só depois de uma avalanche de críticas, inclusive internas, é que o termo apareceu, ainda assim, com um constrangimento visível. Quando brasileiros foram mortos, sequestrados e feitos reféns, o Planalto preferiu tergiversar, dando mais importância ao “contexto do conflito” do que à dor das vítimas.
E tudo isso em nome de quê? De uma suposta neutralidade que não resiste a cinco minutos de análise. Porque, no fundo, Lula já escolheu o lado dele faz tempo. E não é o lado da democracia, nem da liberdade, muito menos da paz. É o lado dos que atacam Israel, dos que ameaçam o Ocidente, dos que desrespeitam os direitos humanos. Em vez de manter a tradição brasileira de moderação e defesa dos princípios universais, o petista resolveu virar garoto-propaganda de um eixo político que junta desde ditaduras islâmicas até regimes comunistas decadentes.
O alinhamento do Brasil com o Irã, reforçado naquela famosa foto entre Lula e Raisi, não é só um constrangimento diplomático. É um insulto direto a todos os brasileiros que acreditam na dignidade humana, na liberdade de expressão e na defesa da vida. É um tapa na cara de cada família que viu seus entes queridos morrerem em atentados terroristas financiados por Teerã. E é também um recado claro para os nossos aliados históricos: o Brasil de hoje, sob a liderança de Lula, já não é mais um parceiro confiável.
Enquanto isso, Israel segue sendo a única democracia funcional no Oriente Médio, lutando para proteger sua população de mísseis, drones e terroristas suicidas. E o Brasil? O Brasil se apequena no cenário internacional, perdendo o respeito das grandes potências e se isolando cada vez mais num grupo de nações cujo denominador comum é a repressão interna e o desprezo pelos direitos fundamentais.
Que o eleitor brasileiro não esqueça desta imagem nas próximas eleições. Porque certas alianças não se desfazem com o tempo. Elas se eternizam na história… para vergonha de toda uma nação.
Se há algo que essa foto entre Lula e Raisi representa, é o retrato fiel da decadência moral e diplomática de um governo que, sob o pretexto de buscar a “paz mundial”, se tornou cúmplice dos maiores promotores da guerra, do terror e da opressão.
O contraste entre as posturas de Bolsonaro e Lula diante de Israel é um reflexo do que cada um representa. Bolsonaro, com seus erros e acertos, sempre soube de que lado estava. Não hesitou em se unir a líderes como Donald Trump e Benjamin Netanyahu, que enfrentam a imprensa, os burocratas globalistas e o politicamente correto. Lula, por sua vez, volta ao conforto do palco internacional progressista, onde se critica o Ocidente, se relativiza o terrorismo e se trata Israel como vilão.
Para quem assistiu de perto aquela viagem de 2019, é impossível não sentir saudade de um tempo em que o Brasil ousou ser protagonista. Em que um presidente brasileiro foi recebido no aeroporto por Netanyahu, percorreu Jerusalém de cabeça erguida, falou de fé e história, e reafirmou o papel do Brasil na fundação do Estado de Israel. Um tempo em que a coragem valia mais que a conveniência.
Hoje, a diplomacia brasileira tenta apagar essa memória. Mas ela resiste. E continuará resistindo enquanto houver brasileiros que se lembram da diferença entre submissão e soberania. Entre covardia e convicção.
Com informações BBC News Brasil/Veja