
O governo federal, através dos Correios, anunciou mais um daqueles pacotes “salvadores” para cortar gastos. Sabe aquele momento em que o dinheiro acabou, mas os privilégios continuam intactos? Pois é, chegou esse ponto para uma das estatais mais queridas (e também mais maltratadas) do Brasil. O plano inclui suspensão de férias, fim do trabalho remoto, redução de 20% nos cargos comissionados e prorrogação do Programa de Desligamento Voluntário (PDV) até o dia 18 de maio.
Ah, e claro: a meta ousada é economizar R$ 1 bilhão em 2025. Agora segura essa: a empresa teve um prejuízo de R$ 2,6 bilhões no ano passado. Isso mesmo, R$ 2,6 bilhões com “b” de Brasil e de… burrice administrativa. Mas calma, foi culpa da Shein, né?
Segundo a narrativa padrão da gestão atual dos Correios, o vilão da história é a “taxa das blusinhas”. Isso mesmo: aquela taxa imposta às compras internacionais acima de 50 dólares que afetou o fluxo de encomendas de empresas como a Shein e a AliExpress. A lógica é simples: se o brasileiro comprava menos fora, os Correios faturavam menos. Mas ninguém fala que o Mercado Livre, a Amazon e até o camelô da esquina entregam mais rápido e com mais precisão que os nossos correios públicos.
Adalberto Piotto, ao comentar o assunto, foi direto: não se trata apenas de números, mas de um velho problema — a ineficiência estatal crônica. Enquanto o setor privado inova, investe em logística de ponta e entrega até previsão de horário em tempo real, os Correios ainda vivem como se estivéssemos em 1995. Você entra numa agência, pergunta quando sua encomenda chega e a resposta é: “talvez em 24, 48 ou 72 horas”. Ou seja, talvez chegue, talvez não. Vai depender da sorte, do clima e do humor do carteiro.
Mas vamos ao cerne da questão: o que está por trás desse plano emergencial é mais do que cortar gorduras. É a constatação de que os Correios viraram uma empresa zumbi — funcionando por pura teimosia ideológica. Afinal, a tentativa de privatização na gestão anterior — que coincidentemente dava lucro — foi enterrada no primeiro mês do governo Lula.
Aliás, vale lembrar: sob Jair Bolsonaro, os Correios voltaram ao azul, tiveram lucro e deram início a um processo de profissionalização da gestão, com base na Lei das Estatais, aprovada no governo Michel Temer. Essa lei surgiu para evitar justamente o que está acontecendo agora: a partidarização da máquina pública. Ela exigia critérios técnicos para nomeações e blindava estatais da influência política. Adivinha o que aconteceu? O STF, com aquela elegância peculiar, abriu uma brecha e… voilà: voltamos ao velho modelo petista de “quem indica”.
Resultado? Uma estatal inchada, politizada e com gestão ideológica. Uma empresa que deixou de ser competitiva porque perdeu o foco no cliente e virou cabide de emprego. Em vez de competir com Amazon e Mercado Livre, a prioridade virou manter apadrinhados felizes e sindicatos satisfeitos. Ah, claro, e patrocinar show de artista famoso, mesmo com dívida bilionária nas costas. Porque prioridade, né?
E por falar em patrocínio, Adalberto Piotto soltou uma das frases mais lúcidas dessa discussão: “nenhuma das medidas anunciadas foi ‘vamos parar de patrocinar o show do Gilberto Gil’”. Pois é. A estatal que não consegue entregar uma carta no prazo segue patrocinando artista que poderia muito bem bancar seu próprio show com o cachê que ganha dos mesmos impostos que nos esfolam mês a mês.
Agora tentam cortar jornada de trabalho, de 40 para 30 ou 34 horas semanais. A desculpa oficial é redução de custos. Mas na prática, é apenas um reflexo da falta de demanda. Tem menos gente usando os Correios, então tem menos trabalho. Mas o salário segue o mesmo, viu? Não se trata de uma conquista trabalhista como vendem por aí. É apenas a constatação de que não há o que fazer, porque ninguém mais confia no serviço.
Enquanto isso, a tal “revisão da estrutura da sede” vira um jeitinho para demitir uns poucos comissionados e manter o esquema funcionando para os amigos do rei. Os que trabalham de verdade — os carteiros que enfrentam sol, chuva e cachorro bravo — são os primeiros a sofrer. Já os gestores indicados por partidos continuam intocados em suas salas refrigeradas. Socialismo para os outros, privilégios para os nossos.
É impossível falar sobre isso sem lembrar do mantra esquecido da eficiência estatal. Toda vez que uma estatal é posta em xeque, os defensores da “soberania nacional” e do “papel social da empresa pública” vêm com aquele discurso cansado: “privatizar é entregar o Brasil”. Não, meu caro. Entregar o Brasil é manter uma estatal deficitária, inchada e politizada, como estão fazendo com os Correios.
Mas não se engane. O objetivo não é melhorar os serviços. O objetivo é manter o controle. Afinal, estatais como os Correios são verdadeiros centros de distribuição — não de cartas, mas de poder político. São moeda de troca em Brasília, peças no tabuleiro da velha política, aquela que prometia nunca mais voltar.
A ironia da situação é escandalosa. Durante o governo Bolsonaro, a Petrobras foi recuperada, os Correios deram lucro e o Brasil avançou com a profissionalização da máquina pública. Com Lula, voltamos a ter estatais no vermelho, com projetos ideológicos, artistas financiados com dinheiro público e programas como o Desenrola Brasil sendo usados como cortina de fumaça para a má gestão. Afinal, dívida de R$ 2,6 bilhões não se resolve com palavras bonitas nem com showzinho no Parque Ibirapuera.
Enquanto isso, o povo brasileiro segue pagando a conta. Literalmente. Através de impostos, tarifas e de um serviço público que entrega menos a cada dia. E o mais triste: sem poder escolher. Porque quando se fala em Correios, muitas vezes ainda é o único canal em regiões do interior, onde nem Amazon nem Mercado Livre chegam. Ou seja, o pobre continua dependente de um sistema falido, enquanto os ricos mandam entregar o iPhone em 12 horas, com rastreio em tempo real.
O futuro dos Correios não será salvo com cortes paliativos. É preciso coragem política para fazer o que precisa ser feito: abrir o setor à concorrência plena, privatizar ou ao menos despolitizar a gestão, e transformar a estatal numa empresa voltada ao cidadão e não a partidos. Mas isso, claro, é pedir demais de um governo que já mostrou que prefere o atraso à modernidade.
A verdade, nua e crua, é que os Correios são hoje o espelho perfeito do Brasil gerido pela esquerda: aparência de progresso, discurso inclusivo, mas práticas atrasadas, ineficientes e ideológicas. A prioridade não é o povo. Nunca foi. A prioridade é o projeto de poder.
E se você duvida disso, basta acompanhar os desdobramentos nos próximos meses. Veja quem será realmente desligado no tal PDV. Veja quem continuará nos cargos comissionados. Veja se os shows patrocinados com verba pública vão mesmo acabar. E veja se as promessas de economia vão se concretizar — ou se serão substituídas por novos prejuízos a serem socializados com a população.
No fim das contas, o prejuízo bilionário da estatal não é só contábil. É moral, institucional, e social. Porque um país que trata com desdém sua eficiência administrativa, que tolera a partidarização de seus serviços essenciais e que aplaude a gastança em meio ao caos não merece prosperar. E talvez por isso estejamos há décadas parados no tempo, vendo os mesmos erros se repetirem com os mesmos protagonistas.
Mas não se preocupe: o importante é que o show do Gil está garantido. O carteiro pode atrasar, o pacote pode sumir, a fila pode dobrar o quarteirão… mas a “função social da arte” será mantida. Afinal, é para isso que serve uma estatal deficitária no Brasil, certo?
Com informações Revista Oeste