
A recente decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) de elevar a taxa Selic para 14,25% ao ano, sob a gestão de Gabriel Galípolo, reacende preocupações profundas sobre os rumos da economia brasileira. Essa medida, embora justificada pelo governo como necessária para conter a inflação impulsionada pelos preços dos alimentos e da energia, parece desconsiderar os impactos devastadores que juros tão elevados têm sobre os setores produtivos, especialmente o agronegócio.
Historicamente, o Brasil já enfrentou cenários semelhantes. Entre julho de 2015 e outubro de 2016, durante o segundo mandato da ex-presidente Dilma Rousseff, a Selic também alcançou 14,25% ao ano. Naquela época, a economia brasileira mergulhou em uma recessão profunda, com o setor produtivo sendo asfixiado por custos de financiamento proibitivos. Agora, sob a liderança de Galípolo, parece que estamos revivendo esse passado sombrio.
O agronegócio, pilar da economia nacional e responsável por manter a balança comercial positiva, é um dos mais afetados por essa política monetária restritiva. Pequenos e médios produtores, que já lidam com custos elevados e um câmbio volátil, veem o crédito se tornar inacessível. Financiar uma safra, que deveria ser uma estratégia de crescimento, transforma-se em um desafio quase intransponível. A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) projeta uma safra recorde de 328,3 milhões de toneladas de grãos, mas de que adianta tal produção se os custos para plantar e colher tornam-se inviáveis?
Além disso, o dólar, que recentemente ultrapassou os R$6, agora está em R$5,64, registrando sua sétima queda consecutiva e atingindo o menor valor desde outubro. Embora isso alivie ligeiramente os custos dos insumos importados, como fertilizantes e defensivos agrícolas, também reduz a competitividade das exportações, pressionando ainda mais a margem de lucro do produtor.
O cenário fiscal também é desanimador. Projeções da Consultoria de Orçamento da Câmara dos Deputados indicam que o Brasil pode fechar 2025 com um déficit primário de R$63 bilhões, equivalente a 0,5% do PIB. O governo, ao gastar mais do que arrecada, transfere a conta para o mercado pagar e tenta tapar o buraco aumentando juros, dificultando ainda mais o investimento produtivo.
A falta de disciplina fiscal assusta investidores, gera desconfiança e leva à velha receita de sempre: juros altos para tentar conter uma inflação que não é causada pelo setor produtivo, mas sim pelo descontrole das contas públicas. O agronegócio, mais uma vez, paga a conta de uma política econômica míope e de curto prazo.
Se o governo realmente quiser conter a inflação sem destruir a capacidade produtiva do país, precisa urgentemente rever suas estratégias. O setor agropecuário não pode ser refém de um sistema financeiro que encarece o crédito e penaliza a produção. O Brasil necessita de medidas concretas, como linhas de financiamento com juros acessíveis, incentivos para modernização do setor e, principalmente, disciplina fiscal, para evitar que a incompetência administrativa continue sufocando quem produz e mantém o país de pé.
Em suma, a elevação da Selic para 14,25% ao ano é um retrocesso que coloca em risco a sustentabilidade econômica do Brasil. É imperativo que o governo adote políticas que promovam o crescimento e fortaleçam os setores produtivos, em vez de medidas que apenas agravam os problemas existentes.
Com informações Revista Oeste