
É curioso como, em um país que se diz democrático, a liberdade de expressão pode ser tratada como um crime hediondo, dependendo, claro, do lado político em que você se encontra. E mais curioso ainda — para não dizer cínico — é quando essa suposta ofensa vem não de palavras, mas da simples presença silenciosa de um cidadão ao lado de seu advogado. Isso mesmo. A nova afronta à ordem jurídica brasileira, segundo o todo-poderoso Alexandre de Moraes, não foi uma fala, nem uma postagem direta. Foi um vídeo publicado por outra pessoa, no qual o ex-assessor internacional de Jair Bolsonaro, Filipe Martins, aparece em silêncio, de braços cruzados. O conteúdo foi postado pelo advogado Sebastião Coelho, e o preço da imagem muda: R$ 20 mil de multa.
Sim, você leu certo. O Brasil de 2025 pune o silêncio com dinheiro.
A matéria, publicada pelo repórter André Richter na Agência Brasil, serve como exemplo do tipo de jornalismo que, mesmo isento no papel, carrega nas entrelinhas a normalização do arbítrio togado. Em um país minimamente equilibrado, esse tipo de notícia causaria espanto. Mas no Brasil de Moraes — onde o ministro do STF acumula funções de investigador, acusador e juiz — já nos acostumamos a ver cidadãos silenciados, multados, censurados e até presos preventivamente por tempo indeterminado, como se estivéssemos vivendo sob um regime de exceção não declarado.
E para entender essa perseguição, é preciso ir além do factual. É preciso compreender o cenário subterrâneo da política nacional, onde o que está em jogo não é apenas uma multa ou um vídeo, mas o controle absoluto da narrativa, da linguagem e até da aparência de dissenso.
O ex-assessor Filipe Martins foi um dos principais articuladores da política externa conservadora do governo Bolsonaro. Era ele quem incomodava o Itamaraty esquerdista, era ele quem ousava desafiar os dogmas globalistas de instituições supranacionais e, principalmente, era ele quem não abaixava a cabeça para a militância judicializada do Supremo. Resultado? Desde 2023, tornou-se alvo fixo de investigações, prisões, medidas cautelares e agora até de multas por aparecer ao lado de seu advogado.
O vídeo em questão mostra o advogado Sebastião Coelho, ex-desembargador e um dos poucos homens públicos que ainda ousam denunciar o descalabro do STF, acompanhando seu cliente no cumprimento de mais uma das bizarras medidas impostas por Moraes: a apresentação semanal ao fórum da cidade onde mora. O próprio Coelho define essa obrigação como “um absurdo”, uma forma de punição sem sentença, típica de regimes onde a suspeita já é condenação. E o silêncio de Filipe no vídeo — que não fala uma só palavra — foi suficiente para o ministro supor “desrespeito à decisão judicial”.
Estamos falando do Brasil ou da antiga URSS?
Ao aplicar a multa de R$ 20 mil, Moraes impõe ainda um prazo de 24 horas para explicações, sob pena de conversão das medidas cautelares em prisão imediata. Eis a nova regra: você deve se explicar rapidamente, ou volta para a cadeia, mesmo que não tenha falado nada. Mesmo que não tenha postado nada. Mesmo que tudo tenha sido feito por seu advogado. O que importa é o espetáculo do controle, a demonstração de força, a intimidação exemplar.
Enquanto isso, os reais corruptos, os aliados do sistema, os nomes consagrados da velha política, continuam circulando por Brasília com seus habeas corpus carimbados. A democracia brasileira virou um jogo de cartas marcadas, onde os conservadores são sempre os culpados, e os progressistas sempre os perseguidos imaginários.
A matéria de André Richter menciona, de passagem, que Martins será julgado nos dias 22 e 23 deste mês junto com outros cinco membros do chamado “núcleo 2 da trama golpista”. Note bem: “trama golpista” — uma expressão que já condena antes mesmo da sentença. Quem decide quem faz parte de “núcleo golpista”? Quem define o que é “golpe”? Onde está o contraditório? Onde está o direito à defesa?
Vivemos uma inversão semântica. O verdadeiro golpe foi aquele que tomou conta das instituições, silenciou adversários, censurou parlamentares, baniu perfis, invadiu casas com mandados genéricos e agora multa o silêncio. Mas a imprensa institucionalizada, a Agência Brasil, o consórcio midiático, repetem o script sem pestanejar: o problema está nos “bolsonaristas”.
Ora, Filipe Martins está proibido de usar redes sociais desde o ano passado. Já está punido. Está sendo monitorado, vigiado, restringido, ainda que sem sentença condenatória. Essa censura prévia, travestida de cautela, é uma das maiores aberrações jurídicas já vistas em um país que se gaba de ter uma Constituição. Mas onde está a OAB? Onde estão os defensores das liberdades civis? Onde estão os liberais que dizem defender o Estado de Direito?
Estão todos calados. Porque quando a perseguição é contra conservadores, ela é vista como justiça.
A notícia da multa de R$ 20 mil por um vídeo é apenas o retrato de um sistema em colapso institucional. Um STF que age como órgão de repressão política, ministros que se comportam como xerifes ideológicos, e um povo cada vez mais acuado, tentando sobreviver ao circo autoritário montado no coração da República.
O caso de Filipe Martins é apenas mais um capítulo do projeto de destruição da direita conservadora no Brasil. Não se trata de um homem. Trata-se de um símbolo. Um conservador cristão, culto, que desafiou o status quo diplomático. Por isso é perseguido. Por isso é calado. Por isso é usado como exemplo para que outros não se atrevam a levantar a cabeça.
Mas a pergunta que ecoa no coração dos brasileiros que ainda têm coragem é: até quando?
Até quando aceitaremos que ministros, protegidos por seus cargos vitalícios, se transformem em inquisidores modernos? Até quando toleraremos que os que deveriam guardar a Constituição, na verdade, governem por ela, contra ela e acima dela?
O silêncio de Filipe Martins, paradoxalmente, grita. Ele grita contra a hipocrisia, contra a covardia das elites políticas, contra a passividade da oposição institucional, contra a anestesia moral da grande mídia. Seu silêncio no vídeo de Sebastião Coelho é mais eloquente do que qualquer pronunciamento. É a prova de que o sistema não quer apenas calar vozes, mas quer destruir pessoas, intimidar famílias, esmagar consciências.
E quando um advogado não pode mais publicar um vídeo com seu cliente, estamos muito além do Estado de Direito. Estamos no Estado de intimidação.
Aos leitores do Conservadores Online, fica aqui um apelo sincero: não se deixem enganar pelo discurso bonito da institucionalidade. Estamos diante de um projeto de poder que despreza os valores democráticos, que despreza a liberdade, que quer construir uma nova ordem política baseada no medo e na submissão. É hora de resistir com inteligência, com coragem, com clareza moral.
E que cada multa, cada censura, cada medida arbitrária como essa aplicada a Filipe Martins, sirva de alerta: hoje é ele. Amanhã pode ser você.
Com informações Agência Brasil