
É quase poético — se não fosse trágico — ver José Dirceu, um dos nomes mais marcados pela lama da corrupção petista, aparecer novamente como porta-voz de um futuro que nunca existiu. Mais uma vez, a velha mídia, fiel escudeira da ilusão vermelha, oferece espaço generoso para que ele espalhe sua narrativa embebida em revisionismo histórico, desprezo pela inteligência do povo e saudade de uma hegemonia que está desmoronando diante dos nossos olhos. No dia 22 de setembro de 2024, a Folha de S.Paulo cometeu mais um de seus atos de autofagia jornalística ao publicar a entrevista de Dirceu como se fosse um profeta da estabilidade e do crescimento. Spoiler: não é.
Antes de mais nada, é importante destacar o elemento central da entrevista: a tentativa desesperada de reescrever o passado recente do Brasil, colocando o Lula como um mártir, o PT como uma vítima da “repressão institucional” e a atual conjuntura econômica como uma obra-prima do governo petista. Se a mentira tivesse valor de mercado, Dirceu estaria entre os homens mais ricos do Brasil. E não seria graças à ética no serviço público, definitivamente.
O ex-ministro condenado não hesita em afirmar que “Lula será reeleito”, como se a vontade do povo brasileiro estivesse escrita nas páginas de um panfleto petista. Ele aposta na “tendência” de crescimento da economia, ignora o empobrecimento real da população, o aumento do desemprego informal, a fuga de capitais e a percepção de insegurança institucional crescente. O Brasil real não é o país das manchetes da Folha ou dos devaneios de José Dirceu, é o Brasil da dona Maria, que viu o preço do arroz dobrar, é o Brasil do seu João, que viu a fila do hospital aumentar e o posto de saúde desaparecer do mapa.
Quando Dirceu diz que “vencemos cinco eleições”, ele se refere a um ciclo de poder sustentado por esquemas de compra de apoio parlamentar, loteamento da máquina pública e populismo barato. O que ele convenientemente omite é que esse mesmo ciclo levou o Brasil à pior recessão da história, culminando no impeachment de Dilma Rousseff e na prisão de Lula, cujas condenações foram anuladas não por inocência, mas por questões processuais — o que, em bom português, significa que o conteúdo dos crimes jamais foi negado, apenas engavetado por tecnicalidades judiciais. A esquerda brasileira vive da falácia da anistia moral.
A entrevista ainda revela a obsessão do petismo em transformar derrotas em vitórias morais. Quando Dirceu afirma que Fernando Haddad teria vencido em 2018 se Lula estivesse solto ou mesmo fazendo campanha da prisão, ele demonstra a incapacidade crônica da esquerda de aceitar a soberania popular quando ela não corresponde às suas vontades. A derrota de Haddad não foi um acidente judicial — foi um recado claro e alto do povo brasileiro: chega de corrupção, chega de miséria programada, chega de autoritarismo disfarçado de democracia.
E o show de delírios continua. Segundo Dirceu, o bolsonarismo foi um “fenômeno importado” do trumpismo, como se o conservadorismo no Brasil fosse algo artificial, sem raízes, sem representatividade. Essa análise não apenas subestima milhões de brasileiros, como revela o desespero ideológico de quem já percebeu que o país acordou. A direita brasileira não foi “criada” — ela sempre existiu, mas foi sufocada pela hegemonia cultural de décadas imposta por intelectuais orgânicos e jornalistas militantes.
É particularmente cômico ver José Dirceu apontando o surgimento de figuras como Pablo Marçal como ameaça à extrema direita. O mesmo Dirceu que, com ares de analista político, tenta colar etiquetas e classificar os atores da nova política de acordo com seu grau de ameaça ao lulismo. Ora, Dirceu, o problema do PT não é o Marçal, nem Bolsonaro, nem a direita institucional. O verdadeiro problema do PT é o brasileiro comum, que finalmente entendeu que foi manipulado por anos a fio. E esse brasileiro agora sabe usar redes sociais, sabe fiscalizar gastos públicos e sabe votar com consciência.
Aliás, outro ponto digno de nota é a tentativa patética de vincular o crescimento econômico à permanência de Lula no poder. Dirceu afirma que 2025 será um ano de “crescimento e estabilidade política”, caso o governo tenha sucesso nas presidências da Câmara e do Senado. Um raciocínio que parece ignorar a total dependência do Executivo petista das emendas parlamentares e dos acordos espúrios com o centrão — o mesmo centrão que Lula dizia combater. O governo atual vive de puxadinhos, não de planejamento estratégico.
Mas talvez o momento mais revelador da entrevista seja quando Dirceu tenta justificar os erros do PT. Ele admite que “houve erros”, mas atribui tudo à “repressão institucional” e à “perseguição das elites”. Esse discurso não é apenas covarde, é infantil. O PT não foi perseguido — foi investigado, julgado e condenado, e só sobrevive hoje graças à leniência do Supremo Tribunal Federal e à passividade de uma imprensa que perdeu completamente o senso de missão pública. A tentativa de Dirceu de reescrever sua cassação como um ato sem provas é um insulto à memória dos brasileiros que assistiram, com perplexidade, a um dos maiores escândalos de corrupção da história republicana.
E como se não bastasse, o ex-ministro ainda tenta dar lições de democracia. Ele diz que o desafio do campo progressista é conquistar a classe média “cosmopolita e democrática”, como se esse eleitorado fosse uma massa homogênea sedenta por discurso identitário e promessas vazias. A verdade é que a classe média brasileira está cansada de ser usada como cobaia para experimentos sociais fracassados. Está cansada de bancar a conta de programas que não se sustentam. Está cansada da retórica do “nós contra eles” — quando, na prática, o “nós” do PT é o partido, e o “eles” é o Brasil inteiro.
A fala de Dirceu é emblemática porque mostra que, apesar das derrotas, o PT nunca mudou. Nunca pediu desculpas sinceras à nação, nunca se comprometeu com uma nova ética política, nunca abandonou sua obsessão pelo controle do Estado. A dependência de Lula, que o próprio Dirceu chama de “lulodependência”, não é uma escolha — é uma necessidade fisiológica de um partido incapaz de gerar novas lideranças de verdade. E os exemplos que ele cita — Haddad, Camilo, Rafael Fonteles — são apenas versões pasteurizadas do lulismo original. Nada de novo. Nada de inspirador.
Por fim, é necessário dizer o óbvio que a grande mídia insiste em esconder: o Brasil não pertence ao PT. A liberdade de pensamento, a fé cristã, a valorização da família, o respeito ao mérito, o direito à propriedade e à segurança são princípios que milhões de brasileiros defendem com orgulho — e que nunca foram respeitados pela esquerda. A tentativa de criminalizar o conservadorismo como uma ameaça à democracia é a maior prova de que o progressismo perdeu o argumento e recorre, mais uma vez, à censura disfarçada de civilidade.
É por isso que textos como esse são fundamentais. Porque enquanto a Folha de S.Paulo empresta suas páginas para que velhos caciques repitam mentiras com novas palavras, nós — cidadãos livres e informados — usamos nosso espaço para denunciar, esclarecer e despertar. José Dirceu pode dar mil entrevistas, Lula pode prometer mil revoluções, o PT pode tentar mil alianças. Mas a verdade é inegociável.
E a verdade é que o Brasil real já entendeu que o futuro não está na retórica do retrocesso, mas na coragem de romper com o ciclo vicioso da velha política. Não há volta. A era da complacência acabou. O povo está de olho. E está mais atento do que nunca.