“Projeto de lei de impostos e imigração de Trump supera obstáculo após votação noturna”, diz The Washington Post

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O presidente da Câmara, Mike Johnson (R-Louisiana), caminha ao lado de repórteres após uma coletiva de imprensa com a liderança republicana da Câmara no Capitólio no mês passado. (Tom Brenner/Para o Washington Post)

Quando Donald J. Trump prometeu uma segunda gestão ainda mais impactante do que a primeira, muitos imaginaram grandes discursos, confrontos diretos com a velha ordem de Washington e, claro, uma avalanche de políticas públicas com o selo “Make America Great Again”. O que talvez poucos previram é que a primeira grande barreira ao avanço da sua ambiciosa agenda fiscal e migratória viria, não dos democratas, mas da ala mais radical do próprio Partido Republicano. Sim, a ironia está servida quente e sem filtro.

Em uma virada dramática nos bastidores do Capitólio, o One Big Beautiful Bill Act — um pacote legislativo que propõe cortes de impostos, incentivos ao trabalho, investimentos em segurança de fronteiras e endurecimento das políticas migratórias — finalmente conseguiu passar na Comissão Orçamentária da Câmara por apenas um voto de diferença. O placar foi de 17 a 16, após quatro membros da ala ultraconservadora decidirem votar como “presentes”, um movimento diplomático que evitou votar “não”, mas que deixou claro o desconforto com os rumos do pacote.

Para o presidente da Câmara, Mike Johnson (R-Louisiana), essa vitória apertada foi, segundo suas próprias palavras, “um grande ganho”. Mas, como ele mesmo admitiu, o trabalho real está apenas começando. Afinal, os conservadores do House Freedom Caucus, defensores ferrenhos da austeridade fiscal, ainda estão rosnando alto diante da projeção de US$ 2,5 trilhões a mais na dívida pública nos próximos dez anos caso o pacote seja aprovado na íntegra.

A hipocrisia aqui é quase poética. Durante anos, os chamados “deficit hawks” — conservadores que pregam o rigor absoluto nas contas públicas — serviram como a espinha dorsal moral do Partido Republicano. Agora, diante de um presidente que quer conquistar o eleitorado com medidas populistas e gastar pesado em defesa, imigração e cortes de impostos, esses mesmos paladinos do equilíbrio fiscal mostram-se um tanto relutantes em desafiar o homem que redefiniu o GOP à sua imagem.

Trump, por sua vez, está longe da zona de guerra legislativa. De volta do Oriente Médio, preferiu passar o domingo no campo de golfe, enquanto seus aliados mais próximos tentavam costurar acordos de última hora para evitar mais sabotagens internas. Enquanto isso, os deputados Chip Roy (Texas), Ralph Norman (Carolina do Sul), Josh Brecheen (Oklahoma) e Andrew Clyde (Geórgia) lideravam o coro da cautela fiscal.

A solução temporária encontrada foi quase teatral: eles votaram “present”, permitindo o avanço do projeto sem precisar endossá-lo totalmente. Uma jogada política que mostra como, até mesmo dentro do Partido Republicano trumpista, há camadas de fidelidade e princípios em constante colisão.

O impasse se agrava pelo cronograma apertado. Johnson quer colocar o projeto em votação no plenário antes do Memorial Day, o que exige negociações relâmpago. Com uma maioria republicana extremamente frágil, perder dois votos é o máximo que o partido pode se permitir — e isso assumindo que todos os deputados estejam presentes e votando. A delicadeza da situação é quase cômica, se não fosse trágica.

O coração da proposta é uma reafirmação da doutrina trumpista: extensão dos cortes de impostos de 2017, isenção de tributos sobre gorjetas, horas extras e juros de empréstimos automotivos, e um pacote bilionário para segurança de fronteiras e defesa nacional. Em suma, é o tipo de política que conquista a base conservadora popular — a América do trabalhador que acredita no mérito, na autoridade e na segurança.

Mas essa mesma política, ao ser embalada por cifras trilionárias, desperta os temores da velha guarda republicana. Será que vale a pena comprometer a tão propagada responsabilidade fiscal para atender ao novo populismo da direita americana? Para os defensores do projeto, a resposta é um retumbante sim: o momento exige ação ousada, mesmo que o preço venha com juros compostos.

Enquanto isso, grupos de moderados republicanos — especialmente os que representam distritos voláteis nos estados azuis — estão preocupados com outro ponto: os cortes sociais que podem ser impostos para aplacar os ultraconservadores. Alterações nos critérios de acesso ao Medicaid, o programa de assistência médica para os pobres, estão no centro da discórdia. Johnson promete transição gradual até 2026 para exigir comprovação de trabalho, mas esse “afago” aos estados pode ser insuficiente para apaziguar o radicalismo fiscal do Freedom Caucus.

Além disso, uma ala dos republicanos de Nova York e outros estados progressistas quer elevar o teto de deduções de impostos locais e estaduais de US$ 10 mil para US$ 30 mil. Trata-se de uma tentativa de proteger suas bases eleitorais da classe média, mas que, na prática, representa mais um furo orçamentário que pode afundar o projeto na reprovação de quem já está com um pé fora da barca.

Um dos líderes desse movimento, o deputado Nick LaLota (R-NY), afirmou nas redes sociais que o projeto precisa de “vento nas velas” e alertou que os “novos valores do Partido Republicano” incluem proteger programas sociais como Medicaid e vale-alimentação, sem penalizar a classe média com aumento de impostos. A julgar pelo clima atual, parece que os “novos valores” ainda estão sendo negociados no escuro.

E é aí que o dilema atinge seu ápice: como equilibrar uma agenda populista conservadora com a ortodoxia fiscal do passado? A resposta — se existir — passa necessariamente por Trump. Afinal, se há alguém capaz de fazer com que os conservadores mais linha-dura fechem os olhos para déficits bilionários, é o mesmo homem que, em 2016, fez o Partido Republicano engolir tarifas, protecionismo e nacionalismo econômico goela abaixo.

No fim do domingo, após intensas reuniões a portas fechadas entre Johnson, líderes da Câmara e representantes da Casa Branca, o que restou foi um frágil avanço. Nenhuma garantia sólida, nenhuma celebração definitiva. Apenas um passo à frente em uma trilha que continua minada por interesses divergentes — todos dentro da mesma bandeira vermelha do GOP.

Enquanto isso, o Partido Democrata observa de camarote, sem mover uma palha para ajudar ou atrapalhar. O jogo aqui é claro: quanto mais tempo os republicanos passarem brigando entre si, menos força terão para confrontar os democratas nas urnas e nas narrativas.

Para os leitores do Conservadores Online, este episódio serve como um alerta e um convite à reflexão. Não basta eleger representantes conservadores — é preciso garantir que eles estejam alinhados não apenas com princípios fiscais, mas com a necessidade urgente de restaurar a autoridade nacional, a segurança nas fronteiras, o respeito ao mérito e o direito do cidadão de viver sem interferência estatal desnecessária.

Sim, o preço pode ser alto. Mas o custo da omissão será muito maior: um país paralisado por sua própria indecisão interna, enquanto a esquerda avança unida, com metas claras e sem freios morais.

O One Big Beautiful Bill representa muito mais do que uma manobra orçamentária. Ele simboliza o novo capítulo da luta por uma América conservadora, forte e livre — ou, na pior das hipóteses, o momento exato em que os próprios conservadores decidiram sabotar seus ideais com tecnicalidades e discursos contraditórios.

A oportunidade está sobre a mesa. Resta saber quem terá a coragem de assinar o cheque em nome da liberdade, e quem continuará conferindo o extrato como se o mundo estivesse em ordem. Porque não está.

Com informações The Washington Post

Leandro Veras

Editor do Conservadores Online, é cristão, conservador e analisa os bastidores da política com visão crítica e firmeza.

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