
Ah, o Brasil. Sempre disposto a ser o eterno réu da história escrita por quem nunca esteve nos campos de batalha, mas sim nos salões da diplomacia ideológica. Desta vez, quem puxa o fio da memória seletiva é ninguém menos que Bernard Duhaime, relator da ONU para a Promoção da Verdade, Justiça, Reparação e Garantias de Não Repetição — um título tão comprido quanto a fila de estrangeiros ansiosos por ditar o que é certo ou errado na política nacional. Como bem expôs Juliano Galisi, no Estadão, esse senhor, com toda pompa internacional, desembarcou no Brasil para sugerir, como se fôssemos um país colonizado novamente, uma “revisão” da Lei da Anistia de 1979, pois, segundo ele, ela teria “aberto as portas para a impunidade”.
É mesmo? Vamos aos fatos e aos bastidores que a grande imprensa, convenientemente, evita comentar.
A Lei da Anistia, promulgada durante o governo do presidente João Figueiredo, não foi um presente de militares a si mesmos, mas sim o produto de um pacto nacional, apoiado até por setores da esquerda, que entendiam que a transição pacífica para a democracia só seria possível com um acordo de reconciliação. Em outras palavras: era o preço da paz. Não se tratava de acobertamento, mas de evitar que o Brasil se tornasse o próximo Chile ou Argentina, à época envoltos em banhos de sangue promovidos por julgamentos políticos e vendetas revolucionárias disfarçadas de justiça.
Mas agora, mais de quatro décadas depois, aparece o tal relator Duhaime, com sotaque estrangeiro e olhar distorcido, para dizer que a Lei de 1979 “está em conflito com os tratados internacionais”. Traduzindo: o que foi decidido pelos brasileiros, em seu tempo, com suas próprias mãos e corações, deve ser revogado porque desagrada a uma casta internacional que se autodeclara detentora da moral universal.
Segundo o próprio texto do Estadão, Duhaime relacionou a “cultura de impunidade” gerada pela anistia ao que aconteceu em 8 de janeiro de 2023, quando manifestantes invadiram os Três Poderes. Um salto olímpico de lógica que faria qualquer ginasta soviético dos anos 80 corar. Comparar os fantasmas de 1964 aos atos de 2023 é não apenas intelectualmente desonesto — é estrategicamente perigoso.
A insinuação — sutil, mas constante — é a de que o Brasil vive sob ameaça constante de autoritarismo militar, e que esse autoritarismo teria raiz… na anistia. Um absurdo completo. Em 2025, o Brasil é governado por civis, com todas as instituições funcionando (ou se protegendo entre si, dependendo do ponto de vista). Se há alguma ameaça real à democracia, ela não vem de militares, mas de quem tenta usar a Justiça para reescrever o passado com base em narrativas.
Quem aplaude esse tipo de interferência externa — e aqui estamos falando de PSOL, OAB, e até ministros do STF, como Ricardo Lewandowski e Dias Toffoli — sabe muito bem o que está fazendo: usa a memória como trincheira ideológica. O passado, para essa gente, não é um fato a ser respeitado, mas um campo de batalha político a ser reescrito até que todas as páginas digam a mesma coisa: que só os seus inimigos erraram.
Como bem relatado no texto de Juliano Galisi, a anistia foi bilateral: perdoou não só agentes do regime, mas também aqueles que pegaram em armas, colocaram bombas em aeroportos, sequestraram diplomatas e executaram brasileiros em nome da revolução. Mas hoje, o foco seletivo recai apenas sobre os militares. Os crimes da esquerda armada? Silêncio. Esquecimento. Ou, pior, glorificação.
O julgamento de 2010 no STF já havia pacificado o tema. Eros Grau, ele mesmo um ex-preso político, relatou o caso e defendeu a manutenção da lei com argumentos sólidos e lúcidos: a anistia foi pública, conhecida e necessária. Sete ministros o acompanharam, entre eles Cármen Lúcia, Gilmar Mendes, Marco Aurélio Mello e Celso de Mello — ninguém pode acusá-los de simpatia automática ao regime de 64. Mas mesmo assim, a pressão segue, agora com a participação de organismos como a ONU e a OEA, que agem como se fossem tribunais morais acima da soberania nacional.
Há, ainda, um elemento recorrente e quase cômico nisso tudo: a ideia de que o Brasil só será justo quando seguir à risca os “padrões internacionais”. Mas, ora, quais são esses padrões? Os mesmos que permitem que a Cuba de Díaz-Canel seja membro do Conselho de Direitos Humanos da ONU? Os mesmos que viram a China como parceira confiável na “defesa das minorias”? É esse o tribunal moral que devemos aceitar? Se isso não é um circo, com palhaços travestidos de diplomatas, não sei mais o que é.
E então vem o PSOL, como sempre, para cavar mais uma ação judicial — agora com base em decisões da OEA, usando o caso do ex-deputado Rubens Paiva para tentar formar uma jurisprudência que reabra as feridas. É curioso notar como essa reabertura acontece sempre em momentos de polarização nacional, como se o passado fosse uma arma útil para a guerra política atual.
A conclusão é clara e perturbadora: não se trata de busca por justiça, mas de instrumentalização política do passado. É a tentativa de condenar hoje quem não pode mais se defender, sob o pretexto de que “o Brasil precisa acertar as contas com sua história”. Como se já não tivéssemos feito isso, com muito mais maturidade do que os inquisidores de hoje imaginam.
Não podemos ignorar o fato de que essa insistência em revisar a Lei da Anistia não é isolada. Faz parte de um movimento internacional coordenado, que busca enfraquecer os valores soberanos de nações que ainda resistem à hegemonia do globalismo progressista. Um movimento que, travestido de “direitos humanos”, busca desconstruir pilares nacionais, como a autoridade das Forças Armadas, a validação de pactos históricos, e a própria noção de reconciliação nacional.
O que Bernard Duhaime representa, portanto, não é a justiça — é o revisionismo com agenda. É a guerra cultural disfarçada de diplomacia.
Por isso, leitores do Conservadores Online, é hora de estarmos atentos. O que está em jogo não é o passado, mas o presente e o futuro. Se permitirmos que organismos estrangeiros interfiram em nossas decisões históricas, amanhã estarão aqui questionando a validade da Constituição, dos valores cristãos, da família, da liberdade de expressão, e de qualquer outro alicerce que nos sustente como Nação soberana e conservadora.
O ataque à Lei da Anistia é apenas um capítulo de um livro que querem reescrever sem nossa permissão. E se não reagirmos com firmeza, estaremos entregando nossa memória — e com ela, nossa identidade — a quem jamais carregou o peso da verdade histórica brasileira.
Em tempo: o texto de Juliano Galisi, do Estadão, apesar de não adotar um tom crítico, merece ser lido com atenção. Ele nos apresenta, ainda que de forma neutra, o roteiro por trás dessa nova investida contra o passado do Brasil. Mas cabe a nós, conservadores, interpretar com olhos atentos e denunciar o que está por trás das entrelinhas.
Revisar a Lei da Anistia em 2025 é, sim, abrir as portas. Mas não da justiça — e sim do revanchismo, da militância disfarçada de legalidade, e da inversão de valores que só interessa aos que querem o Brasil ajoelhado perante as agendas internacionais.
E nós, caro leitor, não nos ajoelhamos para ninguém. Nem ontem. Nem hoje. Nem jamais.
Com informações Estadão