
Você piscou e, mais uma vez, o Supremo Tribunal Federal (STF) tentou montar uma armadilha política sofisticada, mas tropeçou nos próprios pés de toga. A última façanha envolve o julgamento do ex-presidente Fernando Collor de Mello, mas, cá entre nós, ninguém ali no STF estava realmente preocupado com Collor. A verdade? Essa jogada era só um ensaio geral para o espetáculo principal: a tão desejada (e politicamente conveniente) prisão de Jair Bolsonaro.
E se você ainda tem alguma dúvida disso, vamos logo deixando claro: Alexandre de Moraes, o astro do autoritarismo jurídico moderno, já preparava o palco. Ele queria usar o caso Collor para ditar o ritmo e o formato da eventual prisão de Bolsonaro. Mas como toda peça ensaiada demais, a encenação desandou no meio da estreia.
A expectativa era simples: condenar Collor de forma unânime e, com isso, evitar qualquer possibilidade de embargos infringentes — aquele tipo de recurso que só aparece quando há divergência entre os ministros. Acontece que o plenário não seguiu o script de Alexandre. Quatro ministros votaram contra a prisão de Collor: Nunes Marques, André Mendonça, Luiz Fux e, surpresa das surpresas, Gilmar Mendes. Pronto. Bastaram esses votos para desmontar o plano e abrir um precedente jurídico que pode ser o alívio estratégico que Bolsonaro precisava.
O que está em jogo aqui não é apenas um voto, uma divergência ou um recurso jurídico. O que temos diante dos olhos é um racha interno no STF, uma guerra de nervos, um confronto de estratégias entre ministros que até pouco tempo andavam no mesmo compasso.
E por quê? Porque eles sabem. Sabem que o cerco contra Bolsonaro é uma corrida contra o tempo. O STF e especialmente Alexandre de Moraes estão em modo pânico. Eles entendem que, quanto mais nos aproximamos de 2026, mais difícil será conter o crescimento político de Bolsonaro e sua base, que está longe de encolher — aliás, está mais viva do que nunca.
A jogada de Collor, então, se volta contra os próprios articuladores. Ao abrir a possibilidade de embargos infringentes por conta da divergência no julgamento, o STF involuntariamente deu a Bolsonaro uma arma preciosa. Uma burocracia judicial que pode atrasar — e muito — qualquer tentativa de condenação definitiva, especialmente em relação aos processos relacionados aos eventos de janeiro de 2023, que a grande mídia insiste em chamar de “tentativa de golpe”.
Agora pense comigo: se quatro ministros do STF votaram contra a prisão de um ex-presidente esquecido pela opinião pública, o que impede que outros se sintam desconfortáveis ao cravar o prego final no caixão político de Bolsonaro? O custo é alto. A repercussão será monumental. E a divisão já começou.
É por isso que o relógio se tornou o maior inimigo de Alexandre de Moraes. Ele precisa de uma condenação com trânsito em julgado ainda em 2025. Se deixar para depois, corre o risco de ver um novo Congresso, mais alinhado com Bolsonaro, pressionar por uma revisão institucional que pode desmontar toda essa perseguição jurídica. É isso mesmo: o STF está enfrentando um checkmate de prazo. Se não condenar logo, perde a força. E se condenar sem consenso, perde a legitimidade.
A ironia? A própria estratégia de Moraes pode ter plantado a semente do fracasso. Ao transformar o judiciário em palco político, o STF desmoraliza a si mesmo. O público, que já observa tudo com desconfiança, agora vê com clareza que as decisões judiciais têm menos a ver com justiça e mais a ver com estratégia eleitoral.
Vamos ser honestos: se Bolsonaro realmente cometeu um crime, que seja julgado — com isenção, com provas sólidas, com respeito ao devido processo legal. Mas o que estamos vendo é algo muito diferente. É uma perseguição travestida de legalidade. É um cerco coordenado, onde os fins justificam qualquer meio, por mais duvidoso que seja.
A tentativa de prender Collor serviu para mais do que um teste jurídico. Foi um balão de ensaio para medir a coerência do STF, a resiliência dos ministros e, claro, a resposta da sociedade. Mas o teste falhou. A divergência nos votos desmoralizou a tese da unanimidade e, por consequência, criou a mesma oportunidade que pode — ironicamente — livrar Bolsonaro de uma condenação acelerada.
Isso significa que Bolsonaro está livre? Ainda não. Mas significa que cada recurso, cada embargo, cada pedido de vista, agora ganha um peso estratégico. O jogo virou judicialmente prolongável, e Moraes sabe que, se o processo não for encerrado logo, o clima político muda, o povo pressiona, o Congresso se movimenta e, pronto, acabou a chance de “ensacar” o ex-presidente.
O que vemos hoje é um Supremo acuado pelas próprias manobras. Eles criaram um monstro processual que agora está fora de controle. E o nome disso é: precedentes. Um tribunal que atropela regras em nome de objetivos políticos cria uma jurisprudência instável — e a instabilidade jurídica é o maior veneno para a autoridade de qualquer corte constitucional.
Diga-se de passagem: essa fissura entre os ministros do Supremo não é apenas técnica. É política, é estratégica e, acima de tudo, é um sinal de fraqueza institucional. Afinal, quando Gilmar Mendes — notório entusiasta de decisões criativas — começa a discordar de Moraes, é porque a corda realmente está esticando.
Mas vamos além: a grande imprensa, que aplaude de pé qualquer decisão do STF que ataque Bolsonaro, agora se vê diante de um impasse. Como explicar ao público que a condenação de Collor, aquele mesmo que a esquerda sempre tratou como corrupto irrecuperável, está sendo relativizada? Como dizer que quatro ministros discordaram sem parecer que o castelo de cartas está ruindo? A resposta: não dizem. O silêncio agora virou a nova estratégia midiática.
Enquanto isso, do lado conservador, cresce a percepção de que Bolsonaro pode sim resistir juridicamente até 2026. E se resistir, volta com mais força. Porque agora ele terá argumentos não apenas políticos, mas jurídicos, para mostrar que o sistema tentou prendê-lo por meios obscuros e manipulados.
No fim das contas, o que Alexandre de Moraes conseguiu com essa movimentação toda foi apenas um novo revés. O julgamento de Collor, que deveria ser um trampolim para sua cruzada contra Bolsonaro, se tornou um exemplo clássico de como o excesso de estratégia pode virar autossabotagem.
O que aprendemos com isso? Que a Constituição, por mais mutilada que esteja, ainda guarda armadilhas para aqueles que tentam usá-la como instrumento de vingança. Que o direito, quando esticado demais, se parte. E que a pressa é, sim, inimiga da perfeição jurídica.
Então, se você ainda acha que Bolsonaro está sem saída, pense de novo. Ele está jogando o jogo. E agora, com o precedente aberto no caso de Collor, cada passo no STF se tornou mais arriscado, mais demorado, mais suscetível a revisão.
A moral da história? Quem quer prender rápido demais, acaba se prendendo nos próprios nós legais.