
A cada dia que passa, a transparência na gestão pública se torna um ideal cada vez mais distante, um verdadeiro artigo de luxo para poucos. E não é para menos, pois, quando se trata de dinheiro do contribuinte, a criatividade de certos grupos políticos para encontrar maneiras de direcionar verbas é praticamente ilimitada. Você já deve ter visto muitos escândalos financeiros no Brasil, mas desta vez, a situação da ONG Mover Helipa e sua ligação com o Ministério do Desenvolvimento Social (MDS) é um caso digno de um estudo aprofundado sobre como a farra com o dinheiro público se perpetua.
Graças à iniciativa do partido Novo, a Corte de Contas foi acionada para investigar indícios de irregularidades na distribuição de marmitas do programa Cozinha Solidária, um projeto que deveria atender os mais necessitados. O problema? Depois de vencer os editais da pasta, a ONG subcontratou entidades ligadas a ex-assessores de parlamentares petistas e empresas onde o próprio dono da entidade e seus familiares tinham participação societária. Ou seja, dinheiro público fluindo para o mesmo grupo, dentro de um círculo fechado de beneficiários.
O Tribunal de Contas da União (TCU), através do ministro Augusto Nardes, decidiu intervir e solicitou explicações do MDS e da ONG sobre essas movimentações suspeitas. E não para por aí: caso as justificativas não sejam convincentes, ele pode determinar a paralisação do programa, impedindo que o esquema continue drenando recursos dos cofres públicos. Um passo necessário, já que, pelo que foi revelado, o programa parece estar servindo mais a interesses privados do que ao bem-estar social.
Se você acompanha o noticiário político brasileiro, sabe que essas situações não são novidade. Programas assistenciais são frequentemente utilizados como pretexto para desvio de dinheiro público. A ideia é sempre a mesma: uma instituição “sem fins lucrativos” recebe um volumoso repasse governamental, que depois se desmancha em subcontratações suspeitas. E aqui, o Mover Helipa é apenas mais um exemplo.
A ONG, comandada por José Renato Varjão, tem fortes ligações com a família Tatto, um dos clãs políticos do PT em São Paulo. Varjão trabalhou como assessor dos deputados Ênio Tatto e Nilton Tatto, o que já levanta questionamentos sobre a imparcialidade na seleção da entidade para receber os generosos recursos do governo. E, como se não bastasse, a entidade ainda firmou contratos com empresas de próprios parentes do líder da ONG. Parece um roteiro repetido, mas infelizmente, é a mais pura realidade.
Com R$ 5,6 milhões destinados para o Cozinha Solidária e outros R$ 5,2 milhões para cursos de capacitação, o Mover Helipa movimentou uma boa fatia do orçamento federal. O problema é que a qualidade dos serviços prestados não condiz com os valores recebidos. Segundo a reportagem de O Globo, as entidades subcontratadas pela ONG sequer entregaram as marmitas que deveriam fornecer, mas assinaram recibos como se tivessem cumprido o contrato. Isso não é apenas imoral, é crime.
Diante da exposição do escândalo, o ministro do Desenvolvimento Social, Wellington Dias, correu para se proteger e anunciou a suspensão da parceria com a ONG. Mas convenhamos, isso é apenas uma tentativa de minimizar os estragos. O fato de que o programa continuou operando até que a imprensa trouxesse a público as irregularidades mostra que a fiscalização interna é ineficaz ou conivente.
Agora, o caso está nas mãos do TCU, que pode determinar medidas mais drásticas para impedir que o esquema continue. A representação foi assinada por parlamentares do partido Novo, como Eduardo Girão, Adriana Ventura, Marcel van Hattem, Gilson Marques e Ricardo Salles. Eles afirmam que essa fiscalização é essencial para evitar o desperdício de dinheiro público e garantir que os recursos cheguem a quem realmente precisa.
O mais revoltante é perceber que, enquanto essas irregularidades são descobertas, milhares de brasileiros passam fome e vivem em situação de extrema pobreza. O dinheiro que deveria estar sendo utilizado para aliviar o sofrimento dessas pessoas está sendo desviado para interesses políticos e pessoais. O caso do Mover Helipa é um retrato claro de como a “solidariedade” pode ser utilizada como fachada para desmandos financeiros.
E não se engane: essa não será a última vez que você ouvirá falar de situações como essa. Enquanto não houver um controle rigoroso e punição exemplar para os envolvidos, esses esquemas continuarão surgindo, mudando apenas os nomes das ONGs e dos políticos beneficiados. A população brasileira precisa exigir mais transparência e responsabilidade na gestão dos recursos públicos. Caso contrário, continuaremos a assistir esse tipo de escândalo se repetir indefinidamente, enquanto os verdadeiros necessitados seguem esquecidos.
O Mover Helipa alega compromisso com a transparência, mas até agora, as evidências apontam para um sistema viciado, onde os mesmos grupos políticos são beneficiados, e a verdadeira assistência social fica em segundo plano. Cabe agora ao TCU e à sociedade brasileira decidirem se continuarão fechando os olhos para esses abusos ou se, finalmente, exigirão que a lei seja cumprida com rigor.
Se você ainda acredita que “não há dinheiro para programas sociais”, talvez seja hora de se perguntar: quanto desse dinheiro realmente chega a quem precisa, e quanto se perde no caminho?
Com informações Terra